Pesquisadores calculam a capacidade das florestas de resfriar o ambiente e salientam que esse serviço ecossistêmico deveria ser levado em conta para justificar ações de mitigação do aquecimento global e de uso da terra
Quando se pensa em manter a floresta intacta como uma forma de combater as mudanças climáticas o que costuma ser considerado é a quantidade de carbono que seria liberado para a atmosfera se as árvores fossem derrubadas. Agora, pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, em parceria com instituições brasileiras, propõem que a capacidade das florestas de resfriar o ambiente também seja utilizada como um argumento a favor de ações de preservação.
O desmatamento causa a liberação de dióxido de carbono e que isso contribui para o aquecimento global. Mas os serviços ecossistêmicos das florestas que atuam sobre o clima também deveriam ser levados em conta.
"As florestas contribuem para o resfriamento de uma região ao liberarem vapor de água no ambiente, um tipo de “suor planetário”. É preciso uma grande energia para converter água em vapor e esse processo resfria o solo e a superfície das folhas da mesma maneira como o suor resfria a nossa pele”, explicou Evan DeLucia, coautor da pesquisa.
A importância da presença das florestas para o clima já é conhecida há muito tempo, a dificuldade está em quantificar essa ajuda de forma que possa ser um argumento a mais para a preservação ambiental.
Para tentar resolver esse problema, Kristina Anderson-Teixeira e Evan DeLucia, ambos da Universidade de Illinois, se uniram aos professores Peter Snyder e Tracy Twine, da Universidade de Minnesota, e aos professores Santiago Cuadra, do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro, e Marcos Costa, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
A equipe compilou dados para calcular o “valor dos gases do efeito estufa” (a capacidade de absorção desses gases) de 18 “ecoregiões” das Américas e também criou uma modelagem de suas características biofísicas. Foram analisados dados de diversos tipos de florestas, gramíneas, tundra, savana e de culturas agrícolas; como a soja e a cana de açúcar.
“O desafio é combinar os valores dos gases do efeito estufa com os efeitos biofísicos uma vez que eles operam em escalas muito diferentes”, afirmou Kristina.
Os pesquisadores decidiram que a melhor maneira de combinar os dois fatores, e assim conseguir um panorama mais abrangente do efeito da vegetação no clima, era dividir os efeitos biofísicos pela área global de superfície de terras. Em seguida eles converteram esses valores em unidades de dióxido de carbono equivalente (CO2e), um padrão comum nas negociações climáticas internacionais.
Assim, foi possível quantificar o papel de cada tipo de vegetação para o resfriamento de uma região. Comparando os dados dos locais estudados, os cientistas concluíram que a Amazônia possui o maior valor de regulação climática nas Américas.
Uma surpresa foi que as culturas agrícolas também tem um papel importante para limitar o aquecimento. “Pensa-se que as plantações como o milho apenas contribuem para as mudanças climáticas, mas se levarmos em conta sua capacidade de refletir o calor e sua alta taxa de transpiração de vapor de água, o efeito final é o resfriamento local”, disse DeLucia.
Os pesquisadores reconhecem que seu método não é o único a tentar quantificar os serviços climáticos dos ecossistemas, mas salientam que é um dos mais abrangentes e que é mais um argumento a favor da preservação e do bom uso do solo.
“O valor de regulação climática que propomos nesse artigo busca capturar como os ecossistemas afetam o clima, mas é importante salientar que é apenas um dos muitos serviços que os ecossistemas providenciam. O valor final da natureza para a sociedade deve incluir todos esses serviços, como biodiversidade, purificação da água e produção de fibras e alimentos”.
“Esperamos que nossa proposta facilite a construção de políticas de uso da terra que protejam o clima”, resumiu Kristina.
Fonte: Instituto Carbono Brasil
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