Em meados de 1800, a história de uma árvore que comia gente chamou a atenção. Carl Liche, um explorador alemão, escreveu um relatório para a South Australian Register contando que enquanto explorava Madagascar, ele presenciou a cena de uma mulher escalando o tronco de uma planta enorme para beber o seu néctar. Quando a planta sentiu a sua presença, capturou a mulher com os seus tentáculos e puxou-a para dentro de seu corpo.
Cem anos mais tarde, um cientista da década de 1950 desmascarou a lenda afirmando que não somente essa árvore nunca existiu, como ninguém com o nome de Carl Liche havia explorado Madagascar.
Enquanto uma árvore que ingere homens segurando-os através de seus tentáculos não existe, uma versão mais moderada de tal planta existe sim. A árvore que come gente em Madagascar pode ter sido uma “versão exagerada” das plantas carnívoras que são encontradas em Madagascar, Indonésia, Austrália, Malásia e em outras áreas baixas, quentes e úmidas. A maior planta carnívora é conhecida como Nephenthes, e captura pequenos vermes e lagartixas (em inglês) nas suas flores.
A planta carnívora produz uma substância dentro de suas folhas que cobre todo o lado interno de suas flores. Esta substância se mistura com a água que a planta puxa de suas raízes. Insetos e, ocasionalmente, pequenos animais são atraídos pela água perfumada. Quando eles vêm bebê-la, caem dentro das flores, não conseguem escapar e a planta acaba sugando os nutrientes da presa capturada.
Apesar de você certamente não virar uma presa da Nephenthes – elas são muito pequenas para segurar um ser humano – é possível pegar algumas das doenças que ela transmite. De fato, as cinco listadas neste artigo podem até mesmo matá-lo.
Mamona
A mamona, ou Ricinus communis, é amplamente cultivada pelo seu óleo e é também usada como uma planta ornamental. Nenhum destes usos é, porém, um indício de que na verdade esta planta tem um conteúdo mortal: ricina.
O óleo da mamona tem muitos usos na culinária, como na produção de doces e condimentos. Também serve como laxante. O óleo é extraído das sementes da planta – constituídas entre 40 e 60% por óleo.
A mamona provavelmente originou-se na África, mas atualmente é encontrada por todo o mundo. Esta grande planta é comumente encontrada em jardins em função da sua natureza forte e em forma de arbusto. Ela cresce bem em áreas áridas e não necessita de cuidados especiais. Tem crescimento rápido e pode atingir 11 metros em uma temporada. As flores da mamona são verde-amarelas e o centro das flores é vermelho. As folhas são grandes com bordas dentadas.
A ricina está presente em níveis baixos por toda a planta, mas é muito concentrada na casca da semente. Envenenamentos pela semente são raros e quando ocorrem envolvem crianças e animais, mas podem ser fatais. Apenas três sementes – que são verdes com marcas marrons – podem matar uma criança que as engoliu.
Os sintomas do envenenamento pela mamona incluem náuseas, cólicas abdominais, vômitos, sangramento interno e falência renal e circulatória. Muitas pessoas são alérgicas à poeira que vem das sementes e podem tossir, ter dor muscular e dificuldade para respirar. A exposição à poeira é mais comum em áreas onde os grãos são processados para uso comercial. Antigamente, a mamona era usada em pomadas e dizem até que Cleópatra usava o óleo na parte branca dos olhos para iluminá-los.
Beladona
A beladona, ou Atropa belladonna, contém alcaloides tropânicos em seu caule, folhas, frutos e raízes.
Trata-se de uma planta perene que chega a atingir entre 0,6 e 1,2 metros de altura. É possível reconhecê-la através de seu jeitão sombrio, folhas verdes escuras e em forma de sino, e flores perfumadas que surgem nos meados do verão e logo caem.
As bagas da beladona são verdes quando se formam e mudam para um preto brilhante quando estão maduras. São doces e suculentas, o que é um grande atrativo para as crianças. A planta requer um solo rico e úmido para prosperar, e ela cresce bem em algumas áreas do mundo, mas o seu cultivo pode ser limitado, como acontece nos Estados Unidos. Nem todos os animais são afetados pela beladona. Enquanto ela é fatal para o ser humano e alguns animais, cavalos, coelhos e ovelhas podem comer suas folhas sem problema, e os pássaros se alimentam de seus grãos.
O veneno encontrado na beladona afeta o sistema nervoso. Ingerido em grandes doses, o veneno paralisa as terminações nervosas dos músculos involuntários de nosso corpo, como os vasos sanguíneos, coração e músculos gastrointestinais.
Os sintomas de envenenamento por beladona incluem pupilas dilatadas, sensibilidade à luz, visão embaçada, dores de cabeça, confusão mental e convulsões. A ingestão de apenas duas bagas pode matar uma criança, e entre 10 e 20 bagas podem matar um adulto. Até mesmo segurar a planta pode causar irritação.
Diz a lenda que as mulheres na Itália costumavam aplicar o sumo da beladona em seus olhos para deixá-los mais brilhantes [fonte: Georgetown Pharmacology - em inglês]. O próprio nome beladona (belladonna - em italiano) significa “mulher bonita”. Hoje em dia, os médicos raramente realizam qualquer procedimento cirúrgico nos olhos sem usar a atropina, um dos venenos encontrados na Beladona, para dilatar as pupilas dos pacientes.
Ervilha do Rosário
A ervilha do rosário, ou Abrus precatorius, tem sementes muito bonitas. Dois terços da semente são vermelhos e a última parte é preta. Essas sementes decoradas são frequentemente usadas na confecção de joias. Na verdade, essas sementes são especialmente populares na confecção de contas para rosários.
Mas as sementes da ervilha do rosário contêm veneno ao serem abertas. Estas sementes só são perigosas quando o seu revestimento é quebrado e ela é engolida inteira – a ervilha do rosário em si não apresenta qualquer perigo. Mas se a semente estiver arranhada ou esmagada, pode ser mortal. A ervilha do rosário é bem mais perigosa para os fabricantes de joias do que para quem as usa. Há muitos relatos de casos de morte quando o fabricante de joia corta um dedo enquanto manuseia a ervilha do rosário.
A planta ervilha do rosário cresce rapidamente e pode ocupar uma grande área se não for controlada. Uma única vinha da ervilha do rosário pode atingir 6 metros em uma temporada. A planta, que é nativa da Indonésia, espalhou-se pelo mundo todo, nos climas tropicais e subtropicais. Ela é encontrada até mesmo em muitos estados dos Estados Unidos, incluindo o Alabama, Arkansas, Flórida, Geórgia e Havaí. A planta possui folhas longas flores vermelhas.
O ácido ábrico, veneno encontrado dentro de sua semente, é mais perigoso do que a ricina. Menos de 3 microgramas de ábrico no corpo já é o suficiente para matar, o que é menos do que a quantidade de veneno encontrada em uma única ervilha. No corpo humano, o ábrico une as membranas celulares impedindo a síntese de proteínas, uma das funções mais importantes da célula. Os sintomas da intoxicação por ervilha do rosário são: dificuldade para respirar, febre, náusea e líquido nos pulmões. Se ingerida – e a semente estiver quebrada – a semente da ervilha do rosário causa náusea severa e vômito, o que pode levar eventualmente à desidratação, e terminar com a falência renal, de fígado e baço. A morte acontece dentro de três a quatro dias.
Cicuta
A cicuta, ou Cicuta maculata, é uma planta bastante atraente com um padrão de crescimento vertical, folhas listradas de roxo e pequenas flores brancas. Mas as raízes brancas da cicuta são muitas vezes confundidas com a planta cherívia – um erro potencialmente fatal. O veneno encontrado na cicuta, cicutoxina, está presente em toda a planta, porém, é mais concentrado nas raízes. Qualquer um que confunda a planta com a cherívia e decida dar uma mordida enfrentará uma morte violenta.
A cicuta, que é nativa da América do Norte, é considerada por muitos como a planta mais mortífera do continente. A flor selvagem, que chega a atingir 1,8 m, se desenvolve ao longo das margens de córregos, áreas pantanosas e prados úmidos.
Para aqueles nada sortudos que infelizmente acabam provando a cicuta, o início da doença é rápido. A cicutoxina contida na planta causa convulsões violentas e dolorosas, náuseas, vômitos, cólicas e espasmos musculares. Aqueles que sobrevivem ao veneno acabam sendo afetados a longo prazo em outras áreas, desenvolvendo amnésia, por exemplo. Nenhuma quantidade da raiz da cicuta é considerada segura para a ingestão.
Oleandro
O oleandro (espirradeira), ou Nerium oleander, é considerada por muitos como a planta mais venenosa no mundo. Todas as partes da bela oleandro contêm veneno – muitos tipos de veneno. Dois dos mais potentes são a oleandrina e a neriantina, conhecidos por seu efeito devastador no coração. O veneno da oleandro é tão forte que pode matar uma pessoa que apenas comeu o mel produzido por abelhas que ingeriram o néctar desta planta.
Trata-se de uma planta bastante atraente e apesar de sua fama de mortal é frequentemente plantada com propósitos decorativos. Embora nativa do extremo oriente e áreas do Mediterrâneo, a planta chegou aos Estados Unidos, onde se alastrou rapidamente. Ela é forte e sobrevive até mesmo em solos pobres e áridos. A planta cresce como um arbusto denso e chega normalmente a ter entre 1,8 e 5,4 metros em sua maturidade. Possui folhas finas e verdes escuras e suas flores podem ser amarelas, vermelhas, rosas ou brancas e crescem em cachos.
Mesmo em áreas áridas a espirradeira produz flores lindas e cheirosas. Os animais se aproximam da planta instintivamente. Como ela cresce rapidamente é muitas vezes usada em barreiras nas estradas e outras áreas que necessitam estar longe do barulho e poluição. O seu crescimento rápido também a torna popular em zonas de construções já que elas previnem erosões.
Ao contrário de outras plantas tóxicas, a espirradeira é venenosa para a maioria dos animais tanto como é para os humanos. A ingestão de uma simples folha de oleandro pode matar uma criança. Os sintomas incluem diarreia, vômito, dor estomacal intensa, entorpecimento, tontura, batimento cardíaco irregular, levando muitas vezes à morte. Se a vítima sobrevive às primeiras 24h após a ingestão, as chances de sobrevivência aumentam bastante. O paciente é então induzido a vomitar. Também é comum darem carvão para o paciente comer com a intenção de absorver a maior quantidade possível do veneno.
O uso de plantas tóxicas na medicina
Parece loucura usar plantas mortíferas para salvar vidas. Mas algumas das plantas mais venenosas são usadas na área médica. O estramônio (ou figueira do inferno), por exemplo, tem sido usada tanto por assassinos como por médicos no tratamento da epilepsia. Outros candidatos?
- A mamona é usada no Paclitaxel, uma droga quimioterápica, no Sadimmune, uma droga para supressão imunológica e no Xenaderm, como uso tópico em úlceras cutâneas;
- Scopolamine, encontrada na erva-moura, é usada juntamente com a morfina desde 1902 como uma espécie de anestésico durante o parto;
- O quinino, usado no tratamento de pacientes com malária, por exemplo, é derivado da casca da árvore chinchona. É mortal se consumido em grandes quantidades.
Plantas que atacam
Parece impossível que uma planta, presa por sua própria raiz, consiga atacar. Mas muitas espécies de árvores, localizadas em áreas indígenas nas florestas da Austrália e Indonésia, fazem com que suas vítimas sintam-se como se tivessem sido esfaqueadas. Estas plantas, que podem ser tanto pequenos arbustos como árvores enormes, possuem vidro como se fossem cabelos cobrindo suas folhas e frutos.
Quando uma pessoa encosta na planta, esses cabelos se soltam e entram na pele dela. O cabelo, uma vez sob a pele, libera uma neurotoxina que causa dor. Neurotoxinas são venenos que atacam especificamente as células nervosas do corpo. A dor diminui gradativamente, mas pode reaparecer de maneira intermitente durante meses. Há um caso confirmado de morte por este tipo de árvore, além de outras “histórias” de vítimas, principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, quando soldados atiravam no próprio corpo para se verem livres da dor.
ComoTudoFunciona
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ResponderExcluirvc pode me falar que planta é essa?
Super interessante o artigo, meus parabéns! Mas uma coisa que eu senti falta foi a seção 'Fontes'...
ResponderExcluirÓtimo texto. Obrigada.
ResponderExcluirComo estrair o veneno da pranta oleandro
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