O tabagismo é um grande e grave problema de saúde pública, pois não se limita aos danos causados à saúde do fumante e do fumante passivo. Engloba, também, os danos à saúde do plantador de folha de fumo (fumicultor) e dos seus familiares, visto que a mão-de-obra envolvida na cultura do fumo é predominantemente familiar.
Os danos ao ecossistema são incalculáveis, com prejuízos causados ao solo, com a contaminação de alimentos, da fauna e dos rios.
A natureza sofre também com o impacto do desmatamento em larga escala, sendo um fator de desequilíbrio ambiental, pois quando a cobertura vegetal é removida, na presença de chuva intensa, o solo torna-se pobre pela perda de seus nutrientes. Outro impacto ambiental tem como agente os inúmeros casos de incêndios causados pelo cigarro.
Você, com certeza, ficará surpreso ao descobrir as inúmeras agressões ao meio ambiente causada pelo fumo.
Desmatamento
A maior parte das regiões produtoras de fumo no Brasil localiza-se em regiões de topografia acidentada, impossibilitando a mecanização do trabalho, tornando-o extenuante para o fumicultor.
Inúmeras matas são derrubadas em maio, com o objetivo de limpar a terra para o início da semeadura do fumo. O desmatamento continua entre os meses de dezembro e fevereiro, época da colheita da folha do fumo, que necessita de secagem para sua preservação, armazenagem, transporte e processamento corretos.
As folhas de fumo são secas ou curadas em fornos que utilizam a lenha, intensificando o desmatamento.
A madeira das árvores desmatadas também é utilizada na maioria dos países em desenvolvimento, na infraestrutura da construção dos fornos que geralmente têm que ser reconstruídos em dois ou três anos, gerando outros desmatamentos.
Mais árvores são derrubadas para a prática da cura da folha do tabaco, responsável por dar características de sabor, aroma e cor ao tabaco.
Estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que, a cada ano, cerca de 200 mil hectares de matas e florestas são destruídos no mundo para dar lugar a plantações de tabaco.
Estima-se que para a produção de 300 cigarros faz-se necessário a derrubada de 1 árvore, ou em outras palavras, a cada 20 cigarros consumidos por dia, 1 árvore é derrubada a cada 15 dias.
O desmatamento continua, pois para a fabricação do papel utilizado na manufatura do cigarro, mais árvores são sacrificadas. As condições naturais quanto à flora e à fauna da mata virgem nunca serão refeitas, apesar do reflorestamento das zonas desmatadas.
O desmatamento relacionado ao tabaco passou a ser considerado uma questão de relevância mundial, na medida em que contribui, em média, com quase 5% do total de desmatamentos em países desenvolvidos produtores de tabaco e afeta todos os continentes.
Desmatamento e disseminação de doenças infectocontagiosas
O impacto ambiental do desmatamento causado pela fumicultura leva à disseminação de outras doenças infecciosas e parasitárias, ao favorecer a disseminação de mosquitos da malária ou larvas de água doce que provocam esquistossomose e outras doenças, como filariose linfática, dengue, leishmaniose, doença de Chagas e meningite bacteriana.
Depleção e contaminação do solo
O início da preparação do solo para o plantio do fumo ocorre em abril, com o uso de uma grande quantidade de fertilizante.
Nos meses de maio a junho, a sementeira é preparada com o uso de exterminadores de pragas, de contaminadores do solo como os herbicidas, inseticidas, fungicidas, além do uso do brometo de metila, um potente esterilizador do solo, banido da agricultura mundial por contribuir para a destruição da camada de ozônio.
A seiva da planta de fumo absorve os desbrotantes, que têm a função de evitar o rebrotamento de folhas próximas à terra, ocasionado um crescimento maior na parte superior do caule.
O transplante das mudas é realizado entre julho e agosto, nesse processo são utilizados periodicamente também inseticidas e fungicidas.
No período da pré-colheita, compreendido entre outubro e dezembro, ocorre a maior contaminação do solo, pois altíssimas quantidades de agrotóxicos, entre eles os organofosforados e os carbamatos, são utilizados. Toda a família do fumicultor está envolvida na época da colheita, que corresponde aos meses de dezembro e janeiro, inclusive as crianças, que não raro adoecem nessa atividade de trabalho infantil.
O descarte dos recipientes de agrotóxicos já utilizados, em 80% dos casos, é feito de forma inadequada, sendo queimado ou jogado nas florestas. Vale ressaltar que muitos fumicultores mais idosos são de origem alemã, com grande dificuldade na compreensão da fala e leitura da língua portuguesa, o que dificulta o entendimento dos rótulos e dos receituários agronômicos.
O ecossistema é agredido pelo uso em larga escala e pelo descarte inadequado do resíduo de agrotóxico, contaminando os lençóis freáticos, os leitos dos rios, os alimentos e os animais.
O tabaco é uma planta que provoca a erosão ao empobrecer rapidamente o solo, pois utiliza mais nitrogênio, fósforo e potássio do que outros tipos de cultivo. Nos países tropicais, onde o teor de nutrientes do solo é mais baixo, o impacto da depleção do solo é maior.
Tabagismo e incêndios
O simples fato de lançar uma ponta de cigarro pela janela do veículo na estrada, onde há uma mata seca, pode gerar graves consequências. Nas áreas rurais e urbanas, 25% dos incêndios ocorrem devido ao descarte inadequado das pontas de cigarros.
Em 2007, uma nova lei foi promulgada em Los Angeles - Califórnia, onde passou a ser proibido o fumo em parques e praias para evitar riscos de incêndios.
Diversificação da fumicultura, uma solução para o futuro
A recuperação do solo só será possível com o uso de grande quantidade de fertilizante. Outra possibilidade é através do sistema de cultivo rotativo, para restaurar seus nutrientes, caso contrário o solo ficará empobrecido por anos, só voltando a produzir à custa de alta tecnologia e de caros fertilizantes artificiais.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário U$ 5 milhões estão sendo investidos, para a pesquisa e a sensibilização dos fumicultores, no incentivo à diversificação da cultura do fumo nas regiões produtoras. A fumicultura poderá ser substituída pelo plantio de flores, frutas e plantas medicinais.
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