A convenção sobre mudança climática (adotada em 1992) não conseguiu criar o ímpeto para um movimento global de redução de emissões. O esforço deve ser, por igualdade e justiça, primeiro dos países que historicamente mais emitiram e, em segundo lugar, dos países em desenvolvimento, que também terão de se adequar à redução dos gases-estufa, se quisermos realmente entrar em uma trajetória menos perigosa. A temperatura global pode aumentar entre três e cinco graus no final deste século. Isso é muito. Já subiu 0,8 grau em 200 anos. Esta trajetória é bastante pessimista.
Em 2010, foi registrado o maior volume de emissões da história da civilização humana: quase 45% mais do que as emissões de 1990 em dióxido de carbono e outros gases-estufa. Não há forma de olhar estes números sem se preocupar. Alterar o clima em 200 anos, o que leva de 20 mil a 30 mil anos, segundo os ciclos naturais da Terra, é uma mudança muito abrupta para a maneira como a natureza se ajusta aos ciclos naturais. E a primeira vítima direta é a biodiversidade, que é muito variável. O ritmo natural de emergência de uma espécie se conta em centenas de milhares de anos, mas a extinção é muito rápida, basta uma perturbação. Os biólogos estimam que se esse cenário pessimista persistir sem controle até o final do século, estará ameaçada a existência de 40% de todas as espécies. Isto é um grande cataclismo para a vida do planeta Terra.
O clima está mais variável, e os sistemas de produção dos quais dependemos para viver acabam perturbados. Por exemplo, hoje há um grande número de desastres naturais e a capacidade de resiliência está diminuindo. Este é o aspecto que importa quando falamos de falta de água: as projeções das mudanças climáticas no século afetam as regiões semiáridas, onde está a pobreza do mundo. Em cem anos o mar pode subir entre 50 centímetros e 1,4 metro. Isto inundará muitas áreas costeiras baixas onde vivem centenas de milhares de pessoas, que terão de ser reassentadas. Em geral, com grandes elevações de temperatura e com extremos meteorológicos, a agricultura global sofre porque as ondas de calor aumentam, bem como as secas, que se tornam imprevisíveis. O problema é que a agricultura já usa três quartos dos recursos hídricos disponíveis, e está em seu limite.
Existe, sem dúvida, uma crise, e para o Brasil não é diferente. Não só é etnicamente uma mescla de culturas, como também uma mescla climática e ecológica e sofre todos os problemas globais. O quadro de regiões semiáridas é agudo no Nordeste brasileiro, que é o semiárido mais povoado do mundo, com 20 milhões de pessoas. Os desastres naturais estão aumentando muito no Brasil, com inundações, deslizamentos, ondas de calor, contaminação e um ambiente cada vez mais inóspito para a qualidade de vida. A maior vulnerabilidade ecológica está na Amazônia e no Cerrado, onde existe um grande risco de extinção de espécies em grande escala, jamais vista pela humanidade. Falamos de uma possibilidade de variação na Amazônia não vista em dezenas de milhões de anos, uma mudança da floresta que pode se tornar uma savana empobrecida. Se o clima mudar muito em 200 anos, perderemos grande parte da selva amazônica.
O Brasil é um país muito rico em recursos naturais, mais do que Índia e China. A demografia brasileira é muito favorável, e há um desejo de desenvolvimento sustentável. A população (192 milhões de pessoas atualmente) deve se estabilizar nos próximos 15 anos e não passar de 215 milhões. Ao contrário de China e Índia, o Brasil pode planejar um desenvolvimento muito mais equilibrado e um futuro sustentável, pois tem uma quantidade de recursos naturais que talvez nenhum outro país do mundo tenha. Hoje já usa 46% de fontes renováveis de energia e pode chegar em 2050 com 80% de sua matriz renovável. Tudo isto permite traçar um futuro como um dos países mais limpos.
Hoje existe uma consciência na sociedade brasileira de que este futuro é possível. O Brasil não quer ser uma potência hegemônica militar, mas tem um potencial de explorar um novo modelo de desenvolvimento tropical e de ser uma potência ambiental utilizando plenamente a energia renovável no prazo de 20 a 30 anos. A economia do Brasil não pode ser separada da economia do conhecimento natural. A grande diferença é uma economia do conhecimento natural. O país pode ser um líder mundial dessa nova visão com a aplicação do conhecimento, e essa é a imagem que deve passar na cúpula Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável). Queremos ser o país mais limpo do mundo nos setores energético e de produção, e no modelo de agricultura sustentável.
Fonte: envolverde.com.br
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