TEMA: O meio ambiente e seu desdobramento na política e na religião
Formado em Direito e Geografia pela Universidade Federal do Amapá, teólogo, escritor e professor de faculdades de Ciências Jurídicas e Presidente da Associação dos Oficiais de Justiça/AP-AOJAP. Trabalha como Oficial de Justiça-Avaliador do TJAP, Professor de direito penal, processo penal e legislação penal especial, professor de Geografia Geral, do Brasil e Amapá em diversos pré-concursos, pré-vestibulares e faculdades, autor das obras:"Sinopse histórico-geográfica do Amapá", "Os que confiam no Senhor", "Curiosidades bíblicas", "Esboços de sermões e pregações", "Ilustrações que edificam", é também Pastor vice-presidente da segunda maior Igreja Evangélica do Amapá, Assembléia de Deus Zona Norte de Macapá (hoje com 84 congregações no AP,PA e França) e vice-presidente da COMADEZON (Convenção Estadual da ADZN) além de professor da EETAD (Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus do Brasil). Superintendente Geral da Escola Bíblica Dominical da Assemb. de Deus Zona Norte de Macapá. Casado e apaixonado por Berenice Rabelo, é pai de Gabriel (8 anos) e Miguel Ângelo (4 anos) e Larissa Sophia (1 ano). Flamenguista e jogador perna-de-pau de fut-lama nos finais de semana na orla de Macapá.
Floresta do Meio do Mundo: Diante do quadro de catástrofes ambientais, mudanças climáticas e uso irracional dos recursos naturais; como você analisa o papel da sociedade e das organizações público/privadas na minimização desses males?
Prof. Gesiel Oliveira: O que vivemos hoje é o resultado cumulativo de um processo intensificado, durante o século XVIII, com a revolução indústrial. A atuação de organizações público-privadas, neste ínterim, tem-se mostrado aquém das necessidades ambientais, por um equívoco basilar. A educação ambiental requer a construção de novos objetos interdisciplinares de estudo através da problematização dos paradigmas dominantes do status quo capitalista, da formação adequada, capacitação docente, da incorporação do saber ambiental emergente em novos programas curriculares, por isso postulo, que para alcançar uma minimização dos consectários ambientais nos moldes atuais, só mediante mudanças na simplória forma de “preservação ambiental não pragmática e intangível” propalada, ou seja, a educação ambiental ainda está muito longe de penetrar e trazer novas visões de mundo ao sistema educativo formal, e está distante de ser plenamente compreendido a partir dessa “ótica minimalista”. Os princípios e valores ambientais que promovem uma pedagogia do ambiente devem ser enriquecidos com uma pedagogia da complexidade e interdisciplinaridade, que induza discentes a uma visão de multicausalidade e de inter-relações pragmáticas de seu mundo nas diferentes etapas do desenvolvimento psicogenético, que gerem um pensamento crítico e criativo baseado em novas capacidades cognitivas. Neste diapasão, a sociedade civil organizada detém importante papel de profusora e multiplicadora de atividades prático-cognitivas, absorvidas anteriormente e repassadas à gerações futuras. Em suma, imprescindível e condição sine qua non, é converter o discurso sofismático em pragmatismo ambiental.
Floresta do Meio do Mundo: Você como teólogo, de que forma a religião pode contribuir para um meio ambiente saudável e equilibrado?
Prof. Gesiel Oliveira: A religião infunde nos fiéis uma necessidade de olhar o próximo com respeito, fraternidade e espírito altruísta. Neste espeque, firma-se o ideal de respeitabilidade e adoração comum ao Deus, ser superior que fez os céus, a terra e o mar, que num sopro e por ação do “Verbo”, do livro sinótico de João capítulo primeiro, possibilitou a vida e tudo que nos cerca. Desta forma, quem age comissivamente (ou seja por ação) ou omissivamente (ou seja, por deixar de fazer o que deveria) e dessa sua conduta provém uma ação contra a obra do Criador, incorre em uma ação contra o próprio Deus. Desrespeitar a obra do Criador, desmatando, poluindo, degradando, é incorrer contra o próprio criador e sua magnífica, complexa e imperscrutável obra. O Evangelho de Mateus no capítulo 24, nos alerta que “naqueles dias, haverá sinais nos céus e na terra”, é a própria Bíblia afirmando a predição desses eventos que vislumbramos hodiernamente. Daí, desenvolver uma mentalidade voltada ao cuidado e preservação ambiental se faz impreterível no meio religioso também.
Floresta do Meio do Mundo: Como você concilia a vida de jurista, pastor e pai de família?
Prof. Gesiel Oliveira: Pelo tratamento que a pessoa me dirige, já é possível saber de onde me conhece. Se alguém me chama de “Professor”, sei que é de algum cursinho preparatório, pré-vestibular ou faculdade, se “Doutor”, já sei que tem haver com minha vida jurídica, ou se me chama de “Pastor”, sei que é atinente à igreja. Bem, estou como vice-presidente da segunda maior igreja evangélica do Estado, Assembleia de Deus Zona Norte, e que já conta com 84 congregações espalhadas pelo interior do Estado do Amapá, Pará e até na França (Toulouse e Orleans). Minha rotina, todos os dias, começa às 6:00h e termina às 24:00h e sempre foi assim, desde os tempos que fazia cursinho pré-vestibular para ingressar na UNIFAP (Universidade Federal do Amapá), onde conclui o curso de Geografia e Direito, simultaneamente. O segredo, não está em quantas atividades você realiza, mas o amor e atenção que você dedica à elas. O tempo é coisa valiosa que temos, e é preciso saber como administrá-lo, para que nenhuma área de nossa vida fique deficiente. Sei que a “correria” é grande, mas fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele (risos). Saber equacionar o tempo é tarefa difícil, mas edificante, pois lhe possibilita fazer o que você gosta sem esquecer quem você ama. Tenho uma esposa, Berenice Rabelo e 03(três) filhos: Gabriel (8 anos), Miguel Ângelo (4 anos) e Larissa Sophia (1 ano), e não abro mão de compartilhar com eles uma pizza, brincar no parque, acompanhar no dever de casa ou sair no fim de semana para tomar banho num rio próximo. Se você soube administrar seu tempo, e tiver organização, é possível ser feliz profissionalmente e no lar.
Floresta do Meio do Mundo: Você como pastor, orienta seus fiéis, seguidores evangélicos acerca da importância da manutenção de um ambiente limpo, preservado e condizente para as futuras gerações?
Prof. Gesiel Oliveira: Sim, há inclusive uma orientação da CGADB (Convenção das Assembleias de Deus do Brasil) nesse sentido, de conscientizar ecologicamente os fiéis sobre assuntos e temas de fulcro ambiental. Essa consciência ambiental fulcrada em aspectos religiosos não destoa do direcionamento de fé adotado pelas igrejas evangélicas. Há um “Escola Bíblica Dominical” que, de três em três meses, lemos 13 lições, uma a cada domingo, e em várias delas, discutimos sobre assuntos de cunho ambiental. O futuro do nosso pequeno e limitado Planeta, da espécie humana, que populacionalmente, não para de crescer, dos ecossistemas regionais e locais, fatigados pelo excessivo “estresse” do processo industrialista, das pessoas confusas, perdidas espiritualmente embotadas, mas ansiosas por formas de vida mais simples, transparentes, autênticas e cheias de sentido, esse futuro depende de nossa capacidade de desenvolvermos ou não uma espiritualidade ecológica. Não basta sermos apenas racionais e religiosos, mais que tudo, temos que ser sensíveis uns com os outros, cooperativos em todas as nossas atividades, respeitadores dos demais seres da natureza, numa síntese, “devemos ser espirituais com a criação”. Só então irradiaremos como seres responsáveis e benevolentes da única fonte donde promana todo ser e toda bem-aventurança: Deus.
Floresta do Meio do Mundo: A vedete do momento é a Questão Ambiental, você já tem planos ou já trabalha com algum projeto ou obra escrita ligado ao meio ambiente?
Prof. Gesiel Oliveira: Sim, tenho uma obra denominada “Sinopse histórico-geográfica do Amapá”, (que você pode baixar no ‘google’) que inclusive é uma adaptação da minha tese sobre a reorganização do espaço geográfico amapaense, onde faço um levantamento histórico-crítico sobre a ocupação de áreas de ressacas de Macapá e Santana e seus consectários ambientais. Gosto das ideias de sustentabilidade de Fritjof Capra, e ele exara com muito tirocínio, em inserte, na obra “Meio ambiente no século 21” que “o que precisamos é de uma definição operacional de sustentabilidade ecológica. A chave para se chegar a esta definição está em reconhecer que não precisamos inventar comunidades humanas sustentáveis a parti do zero, mas podemos remoldá-las de acordo com a nova realidade vigente”. Sempre estive ligado à questão ambiental e discussões sobre meio ambiente aqui em terras Tucujus e já trabalhei em um projeto, coordenado pelo Dr. Jadson Porto Rebelo, PHD e professor da Universidade Federal do Amapá, sobre preservação da íctiofauna em área de mangues na costa amapaense, tendo inclusive publicado artigos sobre o tema. Participei como palestrante em diversos fóruns sobre meio ambiente e sustentabilidade e continuo atuando neste escopo.
Floresta do Meio do Mundo: Na sua opinião, como cidadão, o que falta ao Governo do Estado do Amapá e a todo seu aparato (ideológico e físico) para que tenhamos uma terra boa para se viver ecologicamente?
Prof. Gesiel Oliveira: Investimento em pesquisa e educação ambiental. Essas duas vertentes surgem como estratégias para o enfrentamento da crise civilizatória de dupla ordem, cultural e social enfrentada no Estado. Sua perspectiva crítica e emancipatória visa à deflagração de processos nos quais a busca individual e coletiva por mudanças culturais e sociais estão dialeticamente indissociadas. A articulação de princípios de Estado e comunidade, sob a égide da comunidade, coloca o Estado como parceiro desta, no processo de transformação do status quo, situado, como um “novíssimo movimento social”. Ao Estado cumpre o papel de fortalecer a sociedade civil como sede da superestrutura. No campo ambiental, o Estado do Amapá tem crescido em termos populacionais e, de outro viés, sem um acompanhamento em investimentos na questão ambiental. Por educação ambiental, entenda-se, portanto, contribuir com o processo dialético Estado-sociedade civil organizada, que possibilite uma definição das políticas públicas sobre os impactos no meio ambiente decorrentes do processo imigratório vivido nas últimas décadas em terras Tucujus, mormente de regiões onde o analfabetismo é elevado e consequentemente as noções sobre meio ambiente são tacanhos desta parcela da população. Nesse sentido, a construção da educação ambiental como política pública implica num processo de intervenção direta, regulamentação e contratualismo jurídico tácito que fortaleçam a articulação de diferentes atores sociais (nos âmbitos formal e não formal da educação) e sua capacidade de desempenhar gestão territorial sustentável e educadora, formação de educadores ambientais, “educomunicação socioambiental” e outras estratégias que promovam a educação ambiental crítica e emancipatória alternativa. As políticas públicas em educação ambiental implicarão uma crescente capacidade do Estado de responder, ainda que com mínima intervenção direta, às demandas que surgem do conjunto articulado de instituições atuantes na educação ambiental crítica e emancipatória. O discurso do desenvolvimento sustentável ventilado em nosso Estado não é homogêneo. Pelo contrário, expressa estratégias conflitantes que respondem a visões e interesses diferenciados. Investimentos neste setor fomentarão alternativas pragmáticas para minimizar os efeitos deletérios da expansão da populacional e da urbe.
Floresta do Meio do Mundo: Você acha que a Educação Ambiental é imprescindível para tornar as pessoas conscientes de seus deveres para com o meio ambiente? Você dá conselhos aos seus filhos ou relega o papel à escola?
Prof. Gesiel Oliveira: A educação ambiental, quando realizada com elementos teórico-prático é eficaz. Acredito sim, que cidadãos crítico e que tenha uma base bem formada sobre conceito atinentes ao meio ambiente, podem se tornar pessoas conscientes de seus deveres ambientais. Acontece que a educação ambiental foi reduzida a um processo geral de conscientização cidadã, à incorporação de conteúdos ecológicos “pré-moldados” e ao fracionamento do saber ambiental a uma capacitação aligeirada sobre problemas pontuais, nos quais a complexidade do conceito de ambiente foi reduzido e mutilado. Creio que a solução não está em cumprir “este papel” e a escola “aquele outro”, mas sim, num agir conjunto.
Floresta do Meio do Mundo: O Brasil possui uma das leis ambientais mais completas e elogiadas do mundo. Mas diariamente ouve-se falar de impunidades e corrupções. Diante disso, as mesmas são cumpridas realmente ou falta um pouco mais de consenso na efetiva aplicação delas?
Prof. Gesiel Oliveira: A atual moldura jurídica-legalista brasileira que rege a questão ambiental institucionalizou o que denomino de "metodologia das duas pontas", pois há uma duplicidade antagônica das normas jurídicas brasileiras, senão vejamos: em uma extremidade, temos a norma mais bem elaborada e técnica do mundo e modelo legal global, e de outro lado a realidade social dissociada da letra fria da lei. É na discussão sobre a adequação do fato jurídico ao fato social que criticamos esta dicotomia. Minha crítica não se dá no sentido de que normas mais rígidas sejam criadas, mas sim que a legislação vigente tenha eficácia normativa e não esteja fadada a uma norma “natimorta”.
Floresta do Meio do Mundo: Nos seus diversos ambientes de trabalho, a temática ambiental tem vez? Realiza mutirões de limpeza, palestras educativas ou incentiva e/ou planta mudas de árvores?
Prof. Gesiel Oliveira: Sim, são inciativas pequenas, mas que em escala global fazem um efeito impactante. A educação para o desenvolvimento sustentável exige novas orientações e conteúdos; novas práticas pedagógicas, nas quais se plasmem as relações de produção de conhecimento e os processos de circulação, transmissão e disseminação do saber ambiental. Ações pequenas, tem o efeito prático de multiplicação para quem assiste, cria uma consciência de preservação e conservação calcadas num senso de comum que deve se multiplicar e passar às gerações futuras.
Floresta do Meio do Mundo: Que mensagem você deixa para os leitores que anseiam por um ambiente mais digno, justo e correto socioambientalmente?
Prof. Gesiel Oliveira: À medida que nosso novo século se desdobra, os efeitos ambientais se ampliam, a população se multiplica, os revezes climáticos se transmutam, a sobrevivência da humanidade passará a depender, cada dia mais, de nossa alfabetização ecológica e ambiental, ou seja, nossa capacidade de compreender os princípios básicos de ecologia e viver de acordo com eles. Este é um empreendimento que transcende todas as diferenças de raça, cultura, ou classe social. A Terra é o nosso lar comum, e criar um mundo sustentável para nossas crianças e para as futuras gerações é uma tarefa para todos nós.
"O futuro do nosso pequeno e limitado Planeta, da espécie humana, que populacionalmente, não para de crescer, dos ecossistemas regionais e locais, fatigados pelo excessivo “estresse” do processo industrialista, das pessoas confusas, perdidas espiritualmente embotadas, mas ansiosas por formas de vida mais simples, transparentes, autênticas e cheias de sentido, esse futuro depende de nossa capacidade de desenvolvermos ou não uma espiritualidade ecológica."
É verdadeiramente de sua autoria o texto que explica a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil nos USA? Postei em meu mural e repassei aos amigos no WhatsApp e algumas pessoas viram erros e fake News, não gosto de palavras ao vento e adorei seu texto, raramente posto sobre minhas opiniões políticas e ao postar seus texto estou ratificando suas palavras. Poderia checar em meu mural no Facebook?
ResponderExcluirMarilia Barbosa
Atriz, cantora, poeta
Absolutamente é historicamente incorretas as observações do teólogo. A indicação é imoral, indevida em face da desqualificação do deputado. Mas é coerente com a prática política adotada neste governo. Não é preciso comparar com nada só ver o não currículo.
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