sábado, 17 de março de 2012

Ecossistemas Amazônidas, um mito de sustentabilidade

A Rio +20 que acontece este ano levanta um questionamento que desde a década de 90, quando se institucionalizou apolítica ecológica no Brasil, com a farta divulgação da Conferencia  da ONU para o desenvolvimento sustentável, ou simplesmente ECO 92, que está em aberto há vinte anos: As intenções acordadas pelas cúpulas dirigentes do mundo naquele período, realmente trouxeram Algum benefício concreto às relações ecológicas no mundo? E principalmente, quais contribuições advieram deste encontro que realmente produziram resultados afins dos benefícios esperados?

Essa ampla exploração do termo ecológico, acabou por mera associação semântica, elevando ao grau ecológico, tudo aquilo que se refere às relações de fauna e flora, elevando o termo para jargão de ambientalistas que em nenhum momento se preocuparam com o real sentido da palavra ecologia, que na mais geral forma, não se resume a florestas e micos dourados, mas às relações dos organismos e seus ambientes em geral.

Também muito se apregoou sobre o potencial amazônico para ambos os lados destas relações que quando não de cunho predatório como o extrativismo e o mutualismo das populações Amazônidas com seu meio, ou do extrativismo predatório, partindo em seguida para a cultura da cadeia produtiva, como a agricultura e pecuária.

Neste período também não se cogitou pensar que um ambiente tão exuberante como a Floresta Amazônica, tinha por sua concepção própria de produtividade, pois em um bioma tão particular que consegue erguer verdadeiras “torres” de até 60 metros de fuste como a Samaúma (Ceiba pentandra) ou flavores exóticos que conquistaram o mundo como o açaí (Euterpe oleracea) e o cupuaçu (Theobroma grandiflorum) com um solo tão pobre mantido à base da decomposição da matéria orgânica das folhas oriundas do grande dossel formado pelas copas.

As chuvas também contribuem para a formação do composto, já que a absorção de ¼ da água produz a umidade e o calor necessário para transformação dos compostos em nutrientes de possível absorção pelas raízes pouco profundas, adaptadas a absorver estes nutrientes em um solo pobre internamente. Sendo os outros ¾ absorvidos lentamente pelo solo sem danificar por erosão a fina camada de húmus que sustenta essa relação harmônica entre os gigantes da flora e seus mutuais habitantes da fauna.

Segundo o engenheiro florestal Elielson Borges, "O sistema amazônico, apesar de toda a exuberância e dinâmica, é muito frágil. Devido a sua ecologia depender de um organismo complexo original, onde cada espécie tem seu papel harmônico definido e não adaptável às mudanças antrópicas".

Do pouco sabido sobre estas relações, onde dantes se achava deste o universo o “pulmão do mundo”, muito se fez em prol da degradação através da exploração madeireira, onde as queimadas abriram grandes clareiras mata adentro, na ânsia de alimentar um mercado que apesar de hoje ser mais exigente nos padrões de produtos de origem da floresta, agora exige sua certificação, que muitas vezes ainda é burlada pelo próprio sistema que assim como ironia da palavra, alimenta uma relação ecológica entre a extração ilegal de madeira e os mecanismos corrompidos de alguns órgãos ambientais que deveriam coibir práticas danosas ao bioma amazônico.

Este desconhecimento ecológico por muitas vezes foi aprendido à duras penas por brasileiros e por estrangeiros como Henry Ford e Daniel Ludwig, que por não conhecerem nada sobre as realidades Amazônidas e não terem nenhuma noção desta ecologia de sustentação adentraram a mata e com muita vontade e dinheiro, levantaram empreendimentos que prometiam um desenvolvimento sustentável dentro da Amazônia com a ideia de convivência harmônica. Fato que acabou levando Ford a sepultar Fordlandia no Estado do Pará que sofreu primeiro com a falta de planejamento ecológico, pois as seringueiras (Hevea brasiliensis), em ambiente natural, apresenta espaçamento entre os espécimes pré-determinado naturalmente pelas relações de altura e diâmetro do dossel, que se encarrega de dar o distanciamento entremeando-as entre outras espécies da floresta.

Entretanto o interesse comercial fez com que o plantio fosse feito de maneira linear e muito próxima, para maximizar a produção, alterando assim o equilíbrio entre os demais entes ecológicos e fazendo com que uma praga de fungos dizimasse o plantio e o que sobrou, foi extinto pelo uso da borracha sintética. Fazendo com que Ford abandonasse o empreendimento.

As mesmas práticas insensatas também sepultaram os eucaliptos (Gmelina arborea) e pinheiros (Pinus taeda) por pragas e por serem espécimes asiáticas inadequadas à realidade do bioma amazônico. E Fizeram Ludwig vender seu projeto a preço nababesco ao governo dos generais.

Essa falta de conhecimento da ecologia amazônida também foi responsável por muitos outros projetos fracassados como a construção da Madeira-Mamoré, que praticamente teve seus trabalhadores e idealizadores consumidos pela malária, devido a falta de conhecimento das consequências da “invasão” instaurada floresta adentro.

As consequências destes projetos mal ajambrados, que de maneira direta quebraram esta harmonia milenar de um bioma isolado, tem sido remediada com ações que nem sempre são as mais ortodoxas, afinal recompor um ambiente degradado, de maneira artificial, leva tempo não só para sua recuperação mas também pelo estudo e a experimentação do comportamento natural da dinâmica das espécies.

Algumas ações têm sido mais predatórias ainda, como a pecuária de gado de corte, que vem sendo amplamente difundida em solo amazônico. Fazendo com que haja compactação do solo e por consequência a demanda por mais espaços de pastagens, alterando radicalmente o meio, em necessidade estrutural de abertura de estradas para escoamento e poluição advinda dos processos de abate.

Mas sem sombra de dúvida, nesta virada de milênio e estas duas décadas que separam os protocolos assinados, quem está na berlinda é a agricultura de grãos e o setor primário de produção, que exportadas do centro-oeste, trazem consigo a grande tábua da salvação para alimentar um mundo faminto e um mercado voraz, em troca de um desenvolvimento abertamente consorciado com a devastação do bioma amazônico em busca de mais e mais áreas, sem levar em consideração a fragilidade do solo e muito menos a sua baixa produtividade, partindo da observação de que se a Amazônia produz gigantes florestais, será muito bem capaz de erguer um império da soja para suprir as necessidades de bilhões de bocas famintas, por grãos e por cifras.

O grande desafio agora é inibir os que pelo conhecimento da falta de nutrientes em um solo nu em uma Amazônia degradada insere mais nutrientes sintéticos, para que enfim haja após o cansaço do solo e uma esterilização até ter por consequência um processo de desertificação, trazendo para a Amazônia as lembranças de duas eras atrás, quando a mesma conheceu os mesmos efeitos que estamos impingindo agora, só que antes o responsável foi a glaciação, agora, somos nós mesmos...


Artigo criado pelo Professor Doutor Charles Borges, Engenheiro Químico pela Universidade Federal do Pará, Mestre em Gestão Pública pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universität der Bundeswehr Hamburg. Sob coautoria do Engenheiro Florestal Elielson Borges (criador do blog FLORESTA DO MEIO DO MUNDO). Publicado originalmente pelo saudoso jornalista Bonfim Salgado. 

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