Atualmente, têm-se conhecimento
da existência de povos indígenas, com suas respectivas terras tradicionais,
demarcadas ou não, vivendo em 24 unidades da federação. Estima-se que a
população indígena total seja de 550.438 pessoas, pertencentes a 225 povos,
falando cerca de 180 línguas diferentes. Desta população, cerca de 358.310
vivem em seus territórios, outros 191.228 migraram para centros urbanos e há
uma estimativa de 900 índios que são pertencentes a povos não constatados.
Há dois segmentos da população
indígena para os quais há ausência total de política de atendimento por parte
do governo: são os índios que vivem nas cidades e os povos considerados
“ressurgidos ou emergentes”.
As famílias indígenas que vivem em
centros urbanos, em sua grande maioria, foram forçadas a migrar. Elas
geralmente não deixam suas terras por opção, mas para tentar encontrar
condições melhores de vida. Suas histórias são marcadas pela violência, fogem
das ameaças constantes, da escassez intensa ou do preconceito. A migração não
ocorre apenas em direção às cidades. Em várias regiões encontram-se grupos
familiares dispersos, que nas migrações vão se afastando, tanto de suas terras
tradicionais quanto de outros membros de seu povo. Podemos citar o exemplo do
povo Atikum, que embora seu território tradicional se localize na Região
Nordeste, no Estado de Pernambuco, encontra-se hoje distribuído entre os Estados
do Pará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia.
Outro segmento da população indígena,
desassistido pelo governo brasileiro, são os povos ressurgidos. São povos que foram forçados a manter no
anonimato as suas identidades étnicas e culturais durante anos e até séculos,
em consequência de violentos processos de perseguição e de discriminação. A
conjuntura dos últimos anos tem possibilitado que estes povos reassumam suas
identidades e reivindiquem a devolução de seus territórios tradicionais,
cabendo ao Estado Brasileiro demarcá-los, conforme determina a Constituição
Federal. Nos encontros, assembleias e momentos coletivos, os povos indígenas
têm alertado para a necessidade de se assegurar aos índios que vivem nas
cidades e aos povos ressurgidos os mesmos direitos consagrados na Constituição.
Não há dúvidas de que, a partir
da chegada dos europeus, os povos indígenas passaram a conviver com os mais
variados tipos de violência. Componente intrínseco ao regime imposto pela
colonização portuguesa, a prática da violência acontecia, sobretudo, no trato
com os escravos. Era também a estratégia mais comum na disputa pela terra e
ampliação das fronteiras do território colonial. Passados quinhentos anos, a
violência continua em pauta, na política indigenista atual. É uma violência
estrutural, estrategicamente incorporada aos processos genocidas que se revelam
hoje nas invasões de terra, aliciamento, repressão cultural e religiosa, roubos,
fome, alcoolismo, prostituição, esterilização de mulheres, discriminação e etc.
Uma das principais causas da
violência contra os índios é a cobiça de suas terras. Pode-se afirmar que 85%
das terras indígenas (incluindo-se as demarcadas) são objeto dos mais diversos
tipos de invasão, tais como a presença de posseiros, garimpeiros, madeireiros,
projetos de colonização, abertura de estradas, hidrelétricas, linhas de transmissão,
hidrovias, ferrovias, gasodutos, oleodutos, minerodutos, criação de unidades de
conservação ambiental e etc.
As reivindicações dos povos
indígenas são justas, pois se fundamentam nos direitos que possuem, como
pessoas, como cidadãos e como povos diferenciados. Para a superação da
violência, eles exigem a garantia da terra, da dignidade, da justiça e de um
atendimento respeitoso e adequado. Nos caminhos traçados em suas lutas, os
índios questionam não apenas a política indigenista, mas a base de toda a
política que coloca em segundo plano o bem estar da pessoa humana. Suas lutas
questionam a concentração da terra em grandes latifúndios, a privatização dos
bens, recursos e conhecimentos produzidos socialmente. Estas são também as
reivindicações de todos aqueles que lutam para construir uma sociedade mais
humana e igualitária, de todos os que cultivam a utopia da transformação ampla
da sociedade.
Neste sentido, é fundamental conhecermos
e refletirmos sobre o significado da terra, da convivência, do meio ambiente,
da saúde, da educação para os povos indígenas e quais os caminhos apontados por
eles na construção de um país melhor. Compreendendo a realidade indígena e os
caminhos de luta construídos coletivamente por estes povos, podemos vislumbrar,
não apenas as formas possíveis de solidariedade com eles, mas as diversas
maneiras de viver, de lutar, de acreditar e de forjar o amanhã. Úteis também
para a transformação de nossa própria realidade.
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