quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Mosca-da-Carambola ainda ataca no Estado do Amapá


A fruticultura brasileira é um segmento de expressão econômica pela crescente participação no comércio internacional e, principalmente, pelo abastecimento do mercado doméstico. No entanto, a ocorrência de moscas-das-frutas nas áreas comerciais constitui uma ameaça à atividade com impactos negativos para o agronegócio.
Para as espécies de moscas-das-frutas dos gêneros Ceratitis e Anastrepha existem tratamentos fitossanitários e marcos regulatórios que permitem o fluxo de comércio em atendimento aos requisitos de sanidade. Situação diferente ocorre em relação ao surgimento de novas pragas, como Bactrocera carambolae no Estado do Amapá, de modo que tal fato pode representar um obstáculo ao desempenho da fruticultura local, regional e nacional.
Apesar de ser conhecida vulgarmente como mosca-da-carambola, a praga ataca mais de 100 espécies de fruteiras, são referidos os seguintes hospedeiros: primários (carambola, goiaba, manga, maçaranduba, sapoti, jambo vermelho, laranja caipira ou da terra) e secundários (caju, jaca, acerola, gomuto, abiu, laranja doce, pomelo, tangerina, fruta-pão, pitanga, tomate, bacupari, cajá ou taperebá, jambo branco e rosa, jambo d’água, jujuba, pimenta e amendoeira).
As exigências vinculadas à defesa sanitária para impedir a introdução e disseminação de novas pragas vêm assumindo papel central nos fóruns de negociação entre Estado, setor produtivo e sociedade civil. Os debates sobre as medidas fitossanitárias se justificam pelos riscos à saúde humana e à produção de alimentos saudáveis. Entretanto, as barreiras não tarifárias podem constituir mecanismo de protecionismo comercial, procedimento condenado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), instância supranacional que visa impedir que normas fitossanitárias sejam utilizadas para fins protecionistas.
A importância da mosca-da-carambola está associada aos prejuízos que pode causar à produção de frutas hospedeiras, às restrições impostas pelos mercados consumidores, às implicações de medidas de controle e aos impactos econômicos, políticos, sociais e ambientais do aparecimento e disseminação dessa praga.
A análise dos benefícios econômicos de um programa de defesa e erradicação de uma praga ou doença não é, por sua própria natureza, uma tarefa simples. Assim, temos de discutir a importância econômica, ambiental e social das moscas-das-frutas, em particular de B. carambolae, bem como estimar valores monetários que representem os benefícios agregados para as regiões brasileiras em função da adoção de medidas efetivas de controle da praga considerando-se os prejuízos que poderiam ocorrer com a dispersão da mosca-da-carambola.
Os ecossistemas amazônicos e a biodiversidade de florestas nativas podem atuar como áreas potenciais de infestação de hospedeiros silvestres, sobretudo porque a realização do combate às pragas por controle químico pode atingir os inimigos naturais dos insetos, agravando ainda mais a situação.
A inspeção do trânsito de mercadorias nos portos, rodovias e aeroportos constituem importante mecanismo de prevenção e controle de pragas que afetam a agricultura, uma vez que nesses locais há um tráfego intenso de commodities e passageiros. No entanto, na região Amazônica, por sua extensão territorial e a existência de áreas limítrofes com países estrangeiros, ocorrem diversos entraves para a aplicação de programas efetivos de defesa sanitária, principalmente em função do modal de transporte fluvial de grande capilaridade com expressivo fluxo de pessoas e mercadorias. As fronteiras internacionais extrapolam o controle e regulação da legislação nacional, como ocorre em relação à circulação de embarcações entre Oiapoque e Saint Georges, na Guiana Francesa.
Para ações de controle da praga é necessário conhecer em que hospedeiros ela se desenvolve nas condições do Amapá. É imperioso, portanto, efetuar a prospecção de possíveis hospedeiros silvestres da mosca nas áreas de mata nativa do Estado.
É recomendável que todo programa de monitoramento populacional de moscas-das frutas seja complementado pela amostragem de frutos. Assim, é possível avaliar o nível de infestação destes e identificar, com precisão, a associação de determinada espécie de tefritídeo com a espécie vegetal ou variedade de frutífera, o que não é possível quando se utiliza armadilha para capturar adultos. Através dessa amostragem, pode-se detectar as larvas das moscas-das-frutas presentes no fruto, o grau de infestação do pomar e o dano direto causado pelas moscas. Dados sobre a fenologia das espécies frutíferas e hospedeiros silvestres, com ênfase especial à época de frutificação, devem ser coletados.
No Estado do Amapá, os impactos sociais podem ser relevantes em função do papel exercido pela incipiente fruticultura para o abastecimento do mercado local e para o autoconsumo. Os agricultores familiares são diretamente afetados na medida em que a presença de B. carambolae acarreta proibição do transporte e do comércio dos frutos hospedeiros e redução das oportunidades de ocupação e renda agrícolas.
Por outro lado, os impactos econômicos da mosca-da-carambola no Amapá podem ser considerados pouco significativos no cômputo da produção nacional de frutas frescas. Entretanto, poderia ocasionar o aumento de dependência do fornecimento de alimentos, o abortamento de uma oportunidade de desenvolvimento da fruticultura local e o comprometimento da renda das famílias rurais dedicadas à atividade frutícola.
Na realidade, os efeitos imprevisíveis da dispersão da mosca-da-carambola diante dos fatores que interferem nos diversos segmentos dos arranjos produtivos locais e da cadeia produtiva da fruticultura, como a influência do clima, a adaptação e interação da praga ao ambiente e aos hospedeiros, conjuntura econômica, regulação de instâncias supranacionais, entre outros, acarretam incertezas quanto à previsibilidade das consequências futuras sobre o setor agrícola e, em especial, sobre o agronegócio brasileiro de frutas frescas.

Um comentário:

  1. oque acontece se vc comer uma carambola e comer sem querer a mosca da carambola ???

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