A fruticultura brasileira é um
segmento de expressão econômica pela crescente participação no comércio
internacional e, principalmente, pelo abastecimento do mercado doméstico. No
entanto, a ocorrência de moscas-das-frutas nas áreas comerciais constitui uma
ameaça à atividade com impactos negativos para o agronegócio.
Para as espécies de
moscas-das-frutas dos gêneros Ceratitis e Anastrepha existem
tratamentos fitossanitários e marcos regulatórios que permitem o fluxo de
comércio em atendimento aos requisitos de sanidade. Situação diferente ocorre
em relação ao surgimento de novas pragas, como Bactrocera carambolae no
Estado do Amapá, de modo que tal fato pode representar um obstáculo ao
desempenho da fruticultura local, regional e nacional.
Apesar de ser conhecida
vulgarmente como mosca-da-carambola, a praga ataca mais de 100 espécies de
fruteiras, são referidos os seguintes hospedeiros: primários (carambola,
goiaba, manga, maçaranduba, sapoti, jambo vermelho, laranja caipira ou da
terra) e secundários (caju, jaca, acerola, gomuto, abiu, laranja doce, pomelo,
tangerina, fruta-pão, pitanga, tomate, bacupari, cajá ou taperebá, jambo branco
e rosa, jambo d’água, jujuba, pimenta e amendoeira).
As exigências vinculadas à defesa
sanitária para impedir a introdução e disseminação de novas pragas vêm
assumindo papel central nos fóruns de negociação entre Estado, setor produtivo
e sociedade civil. Os debates sobre as medidas fitossanitárias se justificam
pelos riscos à saúde humana e à produção de alimentos saudáveis. Entretanto, as
barreiras não tarifárias podem constituir mecanismo de protecionismo comercial,
procedimento condenado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), instância
supranacional que visa impedir que normas fitossanitárias sejam utilizadas para
fins protecionistas.
A importância da
mosca-da-carambola está associada aos prejuízos que pode causar à produção de frutas
hospedeiras, às restrições impostas pelos mercados consumidores, às implicações
de medidas de controle e aos impactos econômicos, políticos, sociais e
ambientais do aparecimento e disseminação dessa praga.
A análise dos benefícios
econômicos de um programa de defesa e erradicação de uma praga ou doença não é,
por sua própria natureza, uma tarefa simples. Assim, temos de discutir a importância
econômica, ambiental e social das moscas-das-frutas, em particular de B.
carambolae, bem como estimar valores monetários que representem os
benefícios agregados para as regiões brasileiras em função da adoção de medidas
efetivas de controle da praga considerando-se os prejuízos que poderiam ocorrer
com a dispersão da mosca-da-carambola.
Os ecossistemas amazônicos e a
biodiversidade de florestas nativas podem atuar como áreas potenciais de
infestação de hospedeiros silvestres, sobretudo porque a realização do combate
às pragas por controle químico pode atingir os inimigos naturais dos insetos,
agravando ainda mais a situação.
A inspeção do trânsito de
mercadorias nos portos, rodovias e aeroportos constituem importante mecanismo
de prevenção e controle de pragas que afetam a agricultura, uma vez que nesses
locais há um tráfego intenso de commodities e passageiros. No
entanto, na região Amazônica, por sua extensão territorial e a existência de
áreas limítrofes com países estrangeiros, ocorrem diversos entraves para a aplicação
de programas efetivos de defesa sanitária, principalmente em função do modal de
transporte fluvial de grande capilaridade com expressivo fluxo de pessoas e
mercadorias. As fronteiras internacionais extrapolam o controle e regulação da
legislação nacional, como ocorre em relação à circulação de embarcações entre
Oiapoque e Saint Georges, na Guiana Francesa.
Para ações de controle da praga é
necessário conhecer em que hospedeiros ela se desenvolve nas condições do
Amapá. É imperioso, portanto, efetuar a prospecção de possíveis hospedeiros
silvestres da mosca nas áreas de mata nativa do Estado.
É recomendável que todo programa
de monitoramento populacional de moscas-das frutas seja complementado pela
amostragem de frutos. Assim, é possível avaliar o nível de infestação destes e
identificar, com precisão, a associação de determinada espécie de tefritídeo
com a espécie vegetal ou variedade de frutífera, o que não é possível quando se
utiliza armadilha para capturar adultos. Através dessa amostragem, pode-se
detectar as larvas das moscas-das-frutas presentes no fruto, o grau de
infestação do pomar e o dano direto causado pelas moscas. Dados sobre a fenologia
das espécies frutíferas e hospedeiros silvestres, com ênfase especial à época
de frutificação, devem ser coletados.
No Estado do Amapá, os impactos
sociais podem ser relevantes em função do papel exercido pela incipiente
fruticultura para o abastecimento do mercado local e para o autoconsumo. Os
agricultores familiares são diretamente afetados na medida em que a presença de B.
carambolae acarreta proibição do transporte e do comércio dos frutos
hospedeiros e redução das oportunidades de ocupação e renda agrícolas.
Por outro lado, os impactos
econômicos da mosca-da-carambola no Amapá podem ser considerados pouco
significativos no cômputo da produção nacional de frutas frescas. Entretanto,
poderia ocasionar o aumento de dependência do fornecimento de alimentos, o
abortamento de uma oportunidade de desenvolvimento da fruticultura local e o
comprometimento da renda das famílias rurais dedicadas à atividade frutícola.
Na realidade, os efeitos
imprevisíveis da dispersão da mosca-da-carambola diante dos fatores que interferem
nos diversos segmentos dos arranjos produtivos locais e da cadeia produtiva da
fruticultura, como a influência do clima, a adaptação e interação da praga ao ambiente
e aos hospedeiros, conjuntura econômica, regulação de instâncias
supranacionais, entre outros, acarretam incertezas quanto à previsibilidade das
consequências futuras sobre o setor agrícola e, em especial, sobre o agronegócio
brasileiro de frutas frescas.
oque acontece se vc comer uma carambola e comer sem querer a mosca da carambola ???
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