A urgência e a seriedade das
questões sociais e ambientais do mundo de hoje, ligadas à incapacidade humana
de resolver esses problemas, nos levam a refletir sobre o relacionamento do
homem com a natureza e também com o próximo. O desenvolvimento medido pelo
consumo e o crescimento da economia à custa da natureza põem em xeque a
possibilidade de avanço real em direção a “governança sustentável” e “economia
verde” no plano global. O Movimento Zeitgeist, conhecido pela repercussão
de seus documentários, defende que os problemas de hoje são o resultado da
paralisia do progresso natural da espécie humana rumo à união e
igualdade. A apenas dois meses da Rio + 20, esse debate se vê necessário.
FLORESTA DO MEIO DO MUNDO: Como
podemos explicar os problemas da humanidade?
MOVIMENTO ZEITGEIST: Dentre
outros problemas da humanidade como pobreza, corrupção, consumismo, vamos pegar
o desmatamento como um exemplo. O que faz as árvores irem ao chão
desnecessariamente? Serras-elétricas? Evidentemente não, pois as máquinas não
possuem vontade própria. Então seriam os empregados de fazendas ou criminosos?
Também não, pois estes apenas fazem aquilo que têm acesso para sobreviver. É
apenas um meio de se ganhar dinheiro. Então seria o dinheiro a causa? Também
não, pois usamos isto como meio de troca. O dinheiro por si nada faz. Perceba o que está realmente por
trás de tudo! Retire todos os humanos da Terra e as florestas não sofrerão mais
qualquer abuso. O problema são as pessoas. Então é isso o que temos que
entender. As pessoas precisam mudar. Precisamos nós nos tornarmos responsáveis.
Porém, não há como ser responsável por algo que simplesmente não compreendemos.
E o que é aquilo que não compreendemos? Nós mesmos. Como indivíduos e, ao mesmo
tempo, espécie humana. Toda vez que segregamos pessoas deixamos de ver os
fatos: só há humanos! Não existem membros de entidades, empresas, fundações,
universidades, movimento sociais, tampouco rótulos como brasileiros, ativistas,
empregados, o que for. Tudo são ideias, não fatos. A realidade é que simplesmente
somos animais da mesma espécie que coexistem no mesmo planeta. O MZ age para conscientizar as
pessoas de que os problemas da humanidade são simplesmente uma ausência de
união da espécie. Ao nos unirmos, resolvemos nossos problemas em conjunto. Pois
o indivíduo percebe que enquanto nos organizarmos em grupos separados, iremos
competir por base na escassez. E neste cenário de guerra, por exemplo, uma
floresta não é nada além de “munição”, uma vantagem competitiva.
FLORESTA DO MEIO DO MUNDO: Estamos
nos aproximando da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável que marca os vinte anos da Cúpula da Terra,
realizada no Rio em 1992. Os temas da conferência vão desde economia verde à
erradicação da pobreza. Há alguma mobilização por parte do movimento para
essa ocasião?
MOVIMENTO ZEITGEIST: Pois então,
questiona-se a relevância destas conferências. Percebe-se que entra ano e sai
ano, a tentativa é sempre aplicar um modelo já conhecido. Percebe-se que o fato
de aplicar modelos (um conjunto pré-estabelecido), sejam quais forem,
simplesmente em nada se resolve. Quando realmente investigamos os fatos? Quando
nos tornamos responsáveis como pessoas e fazemos algo a respeito? Ou apenas
mantemos um discurso que nada diz? Não precisamos de mais
conferências. Não precisamos de nenhuma conferência. Nós humanos somos capazes
de resolver os problemas que nós mesmos criamos. A destruição da Terra é uma mera
consequência da destruição que sustentamos como indivíduos, pois não assumimos
responsabilidade em nível particular. Uma pergunta muito importante a
se fazer é: “o que eu sei sobre minha espécie? O quanto compreendo que meus
atos individuais refletem no mundo? Este tipo de pergunta, se compreendida,
pode levar à novidade. E a novidade é nos unirmos como uma só espécie e
resolvermos nossos problemas.
FLORESTA DO MEIO DO MUNDO: Como o
Movimento encara o debate atual sobre a questão da produção de alimentos vs.
desmatamento? É possível suprir para os sete bilhões de habitantes do planeta?
MOVIMENTO ZEITGEIST: Podemos
viver num mundo de abundância econômica desde meados do século XX. Temos os recursos
adequados para uma gestão inteligente da produção, exploração e distribuição
para todos. Uma economia que preserva e, ao mesmo tempo, sustenta a vida de
todos. A única coisa que impede de usarmos nossas ferramentas somos nós
mesmos.
FLORESTA DO MEIO DO MUNDO: No
debate da reforma do Código Florestal brasileiro, 80% da população se mostra
contrária aos caminhos tomados pelos seus representantes no governo. Espera-se
agora um posicionamento da presidente Dilma. Igualmente com a questão da
construção de Belo Monte. Como podemos nos fazer ouvir pelos nossos
representantes?
MOVIMENTO ZEITGEIST: Como
fazer-nos ouvir? Atualmente fazer-se ouvir é algo simples, posso citar a antiga
conferência de Génova ou a mais atual onda de “ocupações” que se espalhou pelo
mundo. Em ambos os casos “gritos populares” foram ouvidos. Mas, mesmo assim, o
resultado não veio a ser nenhuma solução para nossos problemas. Quem sabe a
pergunta mais adequada fosse: “como podemos tornar nossos representantes
obedientes?”. E nesta pergunta temos o verdadeiro problema, pois novamente
refletimos em nossas ações uma perspectiva reducionista,
“‘nós” contra “nossos representantes’”. A questão
é que ninguém enxerga a humanidade como uma só, logo ninguém busca
soluções para a humanidade como um todo, mas apenas para seu próprio pequeno
grupo. De fato, não existem representantes, apenas pessoas tentando garantir
sua própria sobrevivência.
FLORESTA DO MEIO DO MUNDO: A
dependência da energia de origem fóssil é um grande norteador de políticas
públicas de governos e de riqueza de poucos. Como o Movimento aborda essa
questão?
MOVIMENTO ZEITGEIST: Como
humanidade, já temos tecnologias que podem substituir qualquer energia não
renovável. Podemos gerar mais de 1000% em relação à nossa taxa de consumo. No
entanto, por nada entendermos de como nosso mundo funciona, fazemos uso de métodos
obsoletos de decisão. Agora, se projetamos escassez, competição e segregação, é
apenas isso o que produziremos. O uso do petróleo é uma consequência desta
doença, não sua causa. Se perguntamos sobre guerra, as respostas serão sobre
guerra. Talvez seja hora de rever as perguntas.
FLORESTA DO MEIO DO MUNDO: Estamos
assistindo hoje no cenário mundial vários movimentos como o #VetaDilma,
#Florestalfazadiferença, #Kony2012, # OccupyWallStreet, entre outros, em que a
participação da sociedade, principalmente de jovens, está cada vez mais clara
graças às redes sociais. A revolução depende da internet e de redes
sociais? Basta “curtir”?
MOVIMENTO ZEITGEIST: A
internet é só uma ferramenta. Como uma faca, depende da compreensão humana usar
o recurso para matar ou compartilhar um alimento. Questionar ferramentas é
ignorar a causa de nossos problemas, porque ferramentas não possuem vontade
própria. Há muito a oferecermos em termos
de compreensão. Fica a cargo de sua liberdade compreender como resolvemos
nossos problemas. Ninguém o fará por nós. Este é o mundo no qual vivemos. É
nossa responsabilidade assumir nossas capacidades. E nós podemos muito quando
juntos.
Saiba mais sobre o movimento: movimentozeitgeist.com.br/primeiravezporaqui
IPAM
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