Quando se fala em problemática
atual das comunidades indígenas, não se pode dizer que nasceram na atualidade,
mas sim, que são resquícios de problemas que nasceram ainda na colonização, por
este o fato de tanto se estudar os primeiros séculos do “descobrimento” do
Brasil.
Além do processo de colonização,
houve no Brasil o processo de Neocolonização, que foi o período em que o
interior do Brasil passou a ser ocupado, acabando de inúmeras formas com as
comunidades indígenas, período este que foi até em meados do século XX. Assim,
houve intromissão de inúmeros segmentos, como as madeireiras, os garimpeiros,
latifundiários, mineradoras, hidrelétricas, rodovias, entre outros. Conforme a
citada autora, esta intromissão causou nas últimas décadas o desmatamento, o
assoreamento de rios, a poluição ambiental e a diminuição da diversidade local,
trazendo as enfermidades, a fome e o empobrecimento compulsório da população
indígena.
O século XX foi marcado pela
industrialização global, porém as industrializações foram feitas de forma
desenfreada, com o intuito de lucro imediato, sem se pensar em proteger o meio
ambiente. Além dos fatores de degradação ambiental que ocorria em todo o mundo
gerados pelo desenvolvimento econômico e industrial das grandes cidades, o
interior do Brasil, que ainda tinha suas florestas nativas intactas, passou a
ser povoado, a fim de iniciar o processo de plantio e agropecuária das regiões
Norte, Centro Oeste, Sul e Sudeste do País, sendo que as comunidades indígenas
que ainda não tinham sido “descobertas” passaram a ser desbravadas neste
processo de Neocolonização.
Os empreendimentos hidrelétricos
acarretam inúmeros problemas para a população indígena, tendo em vista que eles
perdem parte de sua terra produtiva, perdendo então sua subsistência,
necessitando do comércio local para sobreviver, haja vista não tendo eles
conhecimento sobre o dinheiro, acabaram perdendo em poucos meses todo o
dinheiro recebido na indenização em compra de alimentos. Além deste fato, como
o local é rico em biodiversidade, diversos madeireiros da região passam a
agredi-lo, gerando grande devastação da área, sendo que o lucro que os
madeireiros receberam muitas vezes não é repassado aos indígenas e quando o
era, o valor é irrisório.
A maioria desses empreendimentos
ocorreu no início da década de 80. Todavia, as consequências ainda são vistas
na atualidade, onde os indígenas vivem na miserabilidade, necessitando de
políticas públicas assistencialistas para a sobrevivência, ocasionando, assim,
outras consequências, como o alcoolismo e a prática de delitos.
Em relação às rodovias, uma das
mais dramáticas histórias foi a da rodovia que liga a cidade de Cuiabá, capital
do estado do Mato Grosso à cidade de Santarém, no estado do Pará, a BR-163,
conhecida como rodovia Transamazônica, uma das mais extensas do País. Ela foi
construída durante o Regime Militar, há 38 anos.
Durante o período da construção
os caminhões traziam a mensagem “integrar para não entregar a Amazônia”. Isto
porque, naquela região, viviam índios Panarás, que nunca tinham sido
contatados. Desta forma, acreditava-se que era necessário integrá-los à
Comunhão Nacional para que o Brasil não perdesse a Floresta Amazônica. Porém, graças
ao trabalho dos irmãos Villas Bôas, durante os contatos não houve conflitos,
mas por conta das doenças que os homens brancos transmitiram aos indígenas,
mais precisamente o sarampo, dois anos depois havia somente 82 índios Panarás
naquela região.
Além dos problemas causados
durante a construção das rodovias, hoje o principal problema é a questão de
haver estradas que “cortam” as aldeias, trazendo diversos problemas dos “não
índios” para dentro da comunidade, além de haver vários atropelamentos dentro das
aldeias. Conclui-se então que o desenvolvimento do País com a construção de
hidroelétricas e de rodovias gerou diversos problemas às comunidades
indígenas.
Também durante o Regime Militar,
na fase do “progresso” do Brasil, as regiões aldeadas por índios passaram a ser
povoadas por fazendeiros, a fim de intensificar a agropecuária. Nessa
ocasião vale ler e analisar a obra “Ditadura e Agricultura” - o desenvolvimento
do País durante este período e os prejuízos causados na Floresta Amazônica no
período de expansão capitalista, bem como os prejuízos causados às Comunidades
Indígenas neste período na região amazônica.
As terras tribais eram
praticamente todas as terras da região. Depois, pouco a pouco, ou com rápida
violência, os indígenas foram sendo rechaçados de suas terras. A catequese, a
evangelização, o extrativismo, a pecuária, a agricultura sob as mais diferentes
formas, estenderam a sociedade e a comunhão nacionais pelas terras, comunidades
e culturas indígenas. As maiores vítimas da penetração de relação de
exploração das riquezas da Amazônia foram, entretanto, os indígenas.
As atividades de desmatamento
começaram a ser executadas de forma cada vez mais intensa nos anos 70 e 80 do
século passado. O comércio de madeira foi a atividade mais importante, o grande
negócio que hoje latifundiários e madeireiros desejariam possuir. Com exceção
de plantios de milho e de soja, hoje em dia nesta região predomina a criação de
gado bovino. Para isso foram semeadas, nas áreas desmatadas, os capins
africanos do gênero braquiária para pasto, que é extremamente agressivo e se
espalha facilmente sobre cada pedacinho livre de terra, e que se espalhou,
também, sobre a superfície de cultivo dos indígenas.
A partir de então, as aldeias
passaram a ter seu espaço reduzido e os problemas passaram a evoluir. A
Amazônia, como explica Leonardo Boff, principalmente durante o Regime Militar,
entre as décadas de 70 e 80, passou a ser povoada, por conta do lema “terra sem
homens para homens sem terra”. Entretanto, este povoamento foi realizado sem
nenhum controle ambiental, hidroelétricas, rodovias e a agropecuária passaram a
ser desenvolvidas, desmatando as florestas e matando indígenas.
Os graves problemas fundiários
existentes no Brasil, igualmente, não podem ser solucionados sem que se resolva
os problemas relativos às terras indígenas. Assim, na medida em que a expansão
da fronteira agrícola verificada na década de 70 do século XX e a construção de
diversas rodovias, tais como a Transamazônica, implicaram o deslocamento de
inúmeros povos indígenas das terras que tradicionalmente ocupavam ou mesmo a
invasão das terras indígenas por colonos originários das mais diferentes
regiões do País.
Como estudado, a terra para o
indígena é o seu meio de sobrevivência. Sem ela não há vida. Conclui-se
que a principal fonte das problemáticas destes índios é a perda da terra, das
florestas: O prejuízo advindo da perda da floresta vai muito além do
componente econômico. Para os guarani a floresta com seus campos naturais era
"tudo o que contava", era tudo o que conheciam do mundo, era o seu
mundo. Domesticar a floresta com seus perigos era a oportunidade que tinham os
homens para desenvolver sua personalidade e para obter prestígio. A comunicação
vital com os animais e com os espíritos da floresta permitia-lhes desenvolver
sua rica vida espiritual. Tudo isto está irremediavelmente perdido, pois com a
perda da floresta, também se perdeu, quase ao mesmo tempo, os saberes a ela
relacionados e a prática da convivência vital com as plantas e os animais.
Hoje se encontram diversos
problemas de ordem sociais ocasionados pela falta de terra, acarretando em
falta de produtividade. Além da falta de terra, muitas aldeias estão em áreas
em que não há solo fértil, tampouco caça e pesca, ou então, estão em áreas que
não podem ser cultivadas.
Não eram somente os indígenas da
Amazônia que sentiam os problemas gerados pela degradação do meio ambiente,
eles eram sentidos em todo o território nacional, devido à exploração das matas
nativas, da construção de hidroelétricas e da construção de rodovias.
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