sábado, 7 de abril de 2012

Perspectivas para a natureza na modernidade


Fomos educados de uma maneira meio estúpida. Não nos ensinaram a valorizar as riquezas naturais que fazem parte da vida. Não fomos incentivados a observar os requintes de interdependência entre as espécies e entre estas e elementos naturais como água, ar, solo ou rochas. Somos parte de uma imensa teia de vida, mas não nos damos conta da maravilha que existe em nós e ao nosso redor. Ao contrário, temos o hábito de usar insustentavelmente os recursos naturais, e a esperar felicidade vinda de fora e de coisas materiais. Só que o prazer do consumo dura pouco, e por isso estamos sempre querendo mais, criando necessidades que de fato não existem. Não percebemos que tudo tem origem em elementos da natureza e que, ao extrairmos recursos naturais indefinidamente, estamos provocando uma crise sem precedentes.

Até pouco tempo, nutria-se a ilusão de que os países em desenvolvimento chegariam ao padrão de vida dos países desenvolvidos. Hoje, sabe-se que a Terra não sustenta tanta demanda. Estudos sobre “nossas pegadas ecológicas” estimam que, se toda a população humana consumisse o mesmo que cidadãos do Primeiro Mundo, já seriam necessários quase quatro planetas. O interessante é que o mesmo estudo indica que, se a distribuição fosse mais equitativa, a produção atual cercearia as necessidades básicas de toda a humanidade.

O modelo de desenvolvimento predominante é, portanto, insustentável e longe de parecer ter sido concebido pela espécie mais inteligente da Terra. A natureza não consegue se recompor na velocidade dos impactos que causamos. Num complexo sistema de reações, agora ocorrem fenômenos intensos e frequentes em todas as partes do mundo, como furacão, enchente, tsunami e aquecimento da temperatura, com degelo dos polos e aumento do nível dos oceanos. Tudo isso tem provocado incertezas, e seriam necessárias reações rápidas com base em conhecimentos que já estão disponíveis. Mas a humanidade resiste a mudanças e, assim, podemos perder a chance de revertermos o quadro atual para salvarmos a riqueza de vida de nosso planeta.

O mundo econômico não atribui valores à natureza em suas equações, nem reflete sobre os “inputs”, ou elementos naturais que entram no sistema produtivo, nem nos “outputs”, ou o que é produzido e gera riqueza, mas também dejetos que impactam o planeta. Não são estimados os recursos naturais como ar, água, solo fértil e outros, nem os investimentos para tratar o lixo gerado e, ainda mais grave, a natureza é tratada como infinita.

Nos últimos anos, nota-se uma maior consciência a respeito desses limites e uma maior valorização do que resta de ecossistemas nativos. Daí a grande oportunidade de os países que ainda contam com ricos ecossistemas, que normalmente são pobres socialmente, reverterem suas condições socioambientais. Mas, para que isso ocorra, é necessário que se comece pelos tomadores de decisão, que precisam tratar o que existe em seus próprios territórios com maior respeito. Há uma tradição histórica de buscar ganhos econômicos com a extração de matérias-primas que precisa ser quebrada.

O Brasil faz parte desse rol e é um dos países mais privilegiados da Terra. Conta com imenso território onde diversos biomas se destacam: Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado, Caatinga e Campos Sulinos (conforme classificação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Em seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados, engloba várias zonas climáticas, o que favorece a existência de uma inigualável diversidade de plantas e animais, e ainda hospeda 20% da água doce do planeta, um dos elementos mais preciosos nesta era de transformações. Mas por isso mesmo temos grande responsabilidade, principalmente na proteção de nossas áreas naturais.

Com o receio de que nada sobraria à ganância humana, em meados do século 19 foram declaradas as primeiras áreas protegidas no mundo. No Brasil, o Parque Nacional de Itatiaia foi o pioneiro, criado em 1937, e muitos se seguiram. Hoje, aproximadamente 25% do território nacional está protegido em terras indígenas ou Unidades de Conservação (UCs). No entanto, a maioria destas é fechada à visitação pública, o que dá margem a que sejam tratadas com ressentimento pelas comunidades locais, por não terem a chance de conhecerem suas belezas e não serem incentivadas a participar de sua proteção.

Imaginar ser possível conservar a biodiversidade dessas áreas sem o envolvimento de quem mora ao redor é ilusão. Primeiro, porque quem vive perto pode se tornar aliado à conservação, se devidamente envolvido com educação ambiental e alternativas sustentáveis que melhorem as condições sociais. Segundo, não há verbas nem infraestrutura disponíveis para cobrir investimentos com guarda-parques, viaturas e meios de comunicação. É repassado ao Ministério do Meio Ambiente um dos menores orçamentos da União, o que demonstra o descaso com a área. De fato, uma das maiores fontes de recursos para conservação advém dos Termos de Ajuste de Conduta (TACs), ou seja, somente quando alguém ou uma empresa comete delitos e é multado é que a conservação sai vencedora. Portanto, a proteção da natureza depende mais dos “pecadores” do que da vontade pública.

Mas existem novos caminhos surgindo que indicam uma revalorização ambiental. Alguns exemplos do setor privado demonstram mudanças dos paradigmas desenvolvimentistas tradicionais que se atinham somente ao lucro. Adicionaram responsabilidades socioambientais que incluem compensar suas emissões de gases de efeito estufa por meio de reflorestamentos, ou manejarem determinados recursos naturais antes extraídos sem muitos cuidados, além de se preocuparem em beneficiar as comunidades locais. Essas experiências merecem ser disseminadas para que outros se “contaminem” e também passem a assumir posturas que levam à maior sustentabilidade local e planetária.

Fica claro que hoje é necessário que todos os setores assumam novos compromissos. Não basta deixar responsabilidades somente nas mãos de ONGs, ou governos e empresas. Precisamos estar juntos nesse caminhar, que poderá nos levar ou a um estado preocupante quanto à nossa própria sobrevivência ou a uma nova celebração da vida como ela merece.

IPE

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