Tudo que temos de conforto e tecnologia vem da transformação das matérias primas da natureza através de processos. Nestes processos ocorrem impactos ambientais que prejudicam a biodiversidade, como o desmatamento, poluição da água e do solo, que acarretam na perda dos habitats naturais. Principalmente a população mais pobre depende dos recursos naturais diretos para sobreviver, como a pesca, e plantações de subsistência, assim, em geral, são os mais afetados pela perda da biodiversidade.
Durante a COP 10, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apresentou uma forma de calcular o valor dos serviços prestados pela natureza, também conhecidos como serviços ecossistêmicos. O estudo indica que os insetos sozinhos prestam um serviço avaliado em U$210 bilhões por ano. O ambiente marinho com corais proporciona, por exemplo, U$172 bilhões anuais. O levantamento também informa que cerca de 30 milhões de pessoas dependem diretamente de recursos vindos dos corais para viver.
Os danos ao capital natural, isto é aos recursos naturais, incluindo florestas, mangues e oceanos chegam a U$4,5 bilhões por ano. O relatório “A economia dos ecossistemas e da biodiversidade” revela que a perda de biodiversidade custa cerca de U$5 trilhões anuais. Os ecossistemas representam entre 47% e 89% do chamado “PIB dos pobres”, de onde as populações agrícolas e ribeirinhas retiram seus alimentos e matéria-prima para ter condições de sobrevivência.
Trata-se, quando falamos de biodiversidade, da manutenção da vida, não de uma espécie ou de uma proteína que a indústria farmacêutica eventualmente possa retirar de vegetais utilizados há milênios por uma população tradicional. Se a indústria, neste caso, patenteia o conhecimento de uma tribo da Amazônia e consegue medir o lucro apurado, o valor dessa planta para um pajé, no entanto, continuaria sendo outro: a preservação da cultura de seu povo. A biodiversidade, muitas vezes mantida e conhecida em seus segredos por povos em todo o planeta por milênios, pode ser fonte para um valor financeiro apurado em balancetes. Mas, a manutenção da vida na Terra, tem um valor que não pode ser apurado por um raciocínio contábil ou financeiro qualquer, por melhores que sejam seus computadores e seus modelos de análise.
É preciso fazer o uso sustentável das paisagens, ou seja, ter as matas ciliares preservadas protegendo os rios, ter as reservas legais e fragmentos florestais conectados para que se formem os corredores de biodiversidade. Usar técnicas de manejo adequadas nas plantações e na pecuária, com curvas de nível e planejamento para prevenção a erosão. As indústrias devem ter sistemas de tratamento de esgotos eficientes. As cidades devem possuir planos diretores que protejam áreas frágeis. E deve-se incentivar a proteção de áreas naturais, através da criação de unidades de conservação como as RPPNs – Reservas Particulares do Patrimônio Natural.
A biodiversidade tem um valor intrínseco: trata-se de mantermos as condições de permanência da vida; é, portanto, incomensurável. Senão, que medidas usaríamos para medi-la? Número de espécies, fluxos de energia, unidades monetárias ou qualquer outra medida pode nos dar algumas referências parciais. Não conseguimos atribuir um valor financeiro à nossa própria vida, ainda que as companhias de seguro façam lá suas contas. Essas mesmas empresas, no entanto, não se arriscariam a fazer seus cálculos para a vida no planeta - assim esperamos - pelo absurdo de que com o fim da biodiversidade não teríamos ninguém para receber ou pagar o prêmio do seguro.
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