Atualmente, mais de 200 milhões
de pessoas em todo o mundo estão expostas à poluição tóxica
em níveis superiores aos tolerados pelas organizações internacionais de saúde.
Essas populações vivem em regiões contaminadas por metais pesados, pesticidas e
até por substâncias radioativas, como o césio. À frente de ações de
monitoramento e mitigação de impactos, a organização ambiental Blacksmith
Institute listou as 10 regiões que mais com sofrem com os poluentes tóxicos.
Agbogbloshie, Gana
Poluente: Chumbo
População afetada: 40 mil +
Agbogbloshie, na Gana, é a
segunda maior área de processamento de lixo eletrônico na África Ocidental.
Devido à composição heterogênea desses materiais, reciclá-los com segurança é
complexo e pode exigir um elevado nível de habilidade. Na maior parte do tempo,
não é isso o que ocorre em Gana, o que eleva o risco de contaminação.
Através de processos de
reciclagem informais, o chumbo é frequentemente liberado no meio ambiente sem
controle de segurança ambiental. As principais formas de contaminação se dão pela
ingestão de alimentos ou água contaminados e por inalação de partículas de
poeira da substância, que pode se armazenar por até 30 anos no tecido ósseo. Os
efeitos da exposição ao chumbo são devastadores e incluem danos neurológicos e
redução de QI.
Rio Citarum, Indonésia
Poluente: Produtos químicos,
incluindo chumbo, cádmio, cromo e pesticidas
População afetada: 500 mil +
diretamente e até 5 milhões indiretamente
A Bacia do Rio Citarum em
Bandung, Indonésia, ocupa uma área de aproximadamente 13.000 quilômetros
quadrados, que abrange uma população de 9 milhões de pessoas. O rio fornece 80%
das águas para abastecimento em Jacarta, irriga fazendas que fornecem 5% do
arroz da Indonésia, e é uma fonte de água para mais de 2.000 fábricas.
Mas a água deste rio também
contém uma gama de contaminantes oriundos de fontes industriais e domésticas.
Investigações de campo realizadas pelo Blacksmith Institute encontraram níveis
de chumbo em mais de 1.000 vezes a norma internacional para água potável. As
concentrações de alumínio, manganês e ferro no rio também estão bem acima do
nível de metais pesados considerado seguro pela EPA.
Hazaribagh, Bangladesh
Poluente: Cromo
População afetada: 160.000 +
Processos industriais são os
principais responsáveis pela poluição através do chamado cromo hexavalente, a
forma mais perigosa deste metal pesado e altamente cancerígeno. As indústrias
que mais contribuem para a contaminação envolvem operações de tratamento de
metais, soldagem de aço inoxidável, produção de cromato e processo de
curtimento de couro. Existem nada menos do que 270 curtumes registrados em
Bangladesh, e a maioria está localizada em Hazaribagh.
Os métodos de processamento
utilização são antigos, desatualizados e ineficientes. Todos os dias, os
curtumes despejam coletivamente 22.000 litros cúbicos de resíduos tóxicos no
Buriganga, principal rio de Dhaka. As comunidades locais utilizam a água
contaminada para vários fins, incluindo irrigação de cultivos, higiene pessoal
e para lavar louças e roupas.
Norilsk, Rússia
Poluente: cobre, óxido de
níquel, outros metais pesados
População afetada : 135 mil
Norilsk é uma cidade industrial
fundada em 1935. As operações de mineração e fundição começaram na década de
1930 e fizeram da região o maior complexo de fundição de metais pesados do
mundo. Cerca de 500 toneladas de óxidos de cobre e de níquel, além de 2 milhões
de toneladas de dióxido de enxofre, são lançadas anualmente no ar. A
expectativa de vida para os trabalhadores de fábrica em Norilsk é de 10 anos
abaixo da média russa.
Embora o número exato de pessoas
potencialmente afetadas pela poluição em Norilsk seja desconhecido, estima-se
que mais de 130 mil moradores da região estão sendo expostos a material
particulado, dióxido de enxofre, metais pesados e fenóis. Estudos anteriores
descobriram elevado concentrações de cobre e níquel o solo de quase todos
os lugares dentro de um raio de 60 quilômetros da cidade. Isso levou ao aumento
dos níveis de doenças respiratórias e câncer dos pulmões e do sistema
digestivo.
Dzerzhinsk, Rússia
Poluente: Produtos químicos
e subprodutos tóxicos de inúmeros processos químico-industriais
População afetada: 300 mil
Durante o período soviético,
Dzershinsk foi um dos principais locais da Rússia para fabricação de produtos
químicos, incluindo armas químicas. Hoje em dia, é ainda um centro
significativo da indústria química russa. Entre 1930 e 1998, cerca de 300.000
toneladas de resíduos químicos foram indevidamente depositados na cidade e em
áreas circundantes.
Em 2007, amostras de água tomadas
dentro da cidade apresentaram níveis de substâncias químias tóxicas milhares de
vezes acima dos níveis recomendados. Isso levou o Livro de Recordes do Guiness
Book a citar Dzershinsk como a cidade mais poluída do mundo no mesmo ano. Nos
últimos anos, esforços têm sido realizados para fechar instalações obsoletas e
restaurar a terra contaminada. Um estudo de 2006 revelou que a expectativa
média de vida em Dzershinsk é de 47 para as mulheres e apenas 42 para os
homens.
Matanza-Riachuelo, na Argentina
Poluentes: compostos
orgânicos voláteis, incluindo tolueno
População afetada: 20 mil +
A bacia do rio Matanza-Riachuelo,
na Argentina, tem mais de 60 quilômetros de extensão e abriga um sem número de
fabricantes de produtos químicos. Estima-se que 15 mil indústrias estão
ativamente lançando efluentes no rio, que corta 14 municípios. Um estudo
publicado na Revista Latino-Americana de Sedimentologia e Análise de Bacia, em
2008, revelou que o solo nas margens do rio continha níveis de zinco, chumbo,
cobre, níquel e cromo bem acima dos níveis seguros.
Acredita-se que 60% das cerca de
20 mil pessoas que residem perto da bacia do rio vivem em território
considerado impróprio para a habitação humana. Doenças diarreicas, doenças
respiratórias e câncer estão entre os problemas de saúde pública associados aos
vários setores da bacia.
Chernobyl, Ucrânia
Poluente: poeira radioativa,
incluindo urânio, plutônio, césio-137, estrôncio-90, e outros metais
População afetada: Até 10
milhões
Chernobyl é reconhecido
internacionalmente como um dos piores desastres nucleares da história. Na noite
de 25 de abril de 1986, o teste na usina provocou um colapso do núcleo do
reator, liberando mais de 100 vezes a radioatividade das bombas lançadas sobre
Hiroshima e Nagasaki. Cerca de 150 mil quilômetros quadrados de terra foram
afetados no acidente.
O reator foi enterrado em uma
caixa de concreto projetado para absorver a radiação e conter o combustível
remanescente. No entanto, a estrutura tinha intenção de ser uma solução
temporária e projetada para durar não mais do que 30 anos. Hoje, existem mais
de uma dúzia de radionuclídeos artificiais como o césio-137 que podem ser
detectados na superfície do solo ao redor da planta. A ingestão de alimentos
produzidos em áreas contaminadas continua a ser a principal via de intoxicação,
como resultado da exposição prolongada de baixa dosagem.
Kabwe, Zâmbia
Poluente: Chumbo
População afetada: 300.000 +
Kabwe, a segunda maior cidade da
Zâmbia, está localizada a cerca de 150 quilômetros ao norte da capital do país,
Lusaka. Um estudo de saúde feito em 2006 descobriu que, em média, os níveis de
chumbo no sangue das crianças em Kabwe ultrapassam os níveis recomendados em
até dez vezes.
Este é o resultado de
contaminação a partir de mineração de chumbo na área, que fica ao redor do
Copperbelt. Em 1902, ricas jazidas de chumbo foram descobertas, conduzindo
operações de mineração e fundição por mais de 90 anos. Apesar das minas terem
sido fechadas, a atividade artesanal em pilhas de rejeitos continua. Crianças
que vivem brincando no solo e jovens garimpeiros na área estão em maior risco.
Kalimantan, na Indonésia
Poluente: Mercúrio e cádmio
População afetada: 225.000 +
Kalimantan é a parte indonésia da
ilha de Bornéu. Em duas de suas cinco províncias, a mineração artesanal de ouro
em pequena escala constitui a principal fonte de renda para 43 mil pessoas. A
grande maioria dos mineiros utilizam mercúrio no processo de extração de ouro.
Ele auxilia o processo de purificação do metal conhecido como
"amalgamação", sendo liberado na forma de vapor no meio ambiente.
Os trabalhadores, que lidam
dia-a-dia na atividade garimpeira, são os mais suscetíveis a aspirar esse vapor
tóxico e imperceptível. A contaminação também pode acontecer por ingestão de
peixes oriundos de águas poluídas.
Delta do Rio Níger, na Nigéria
Poluente: Petróleo
População afetada: indeterminada
O Delta do Rio Níger é uma região
densamente povoada que se estende por cerca de 70.000 km2 e representa quase 8%
do território da Nigéria. É fortemente poluído por petróleo e hidrocarbonetos,
uma vez que a região tem sido palco de grandes operações petrolíferas desde o
final da década de 1950. Entre 1976 e 2001, havia cerca de 7.000 incidentes
envolvendo derrames de petróleo, onde a maior parte do óleo nunca foi
recuperado.
Uma média de 240 mil barris de
petróleo são derramados no delta do Níger a cada ano devido a falhas mecânicas
e muitas causas desconhecidas. Os vazamentos não só contaminam a água
superficial e subterrânea do delta, mas também o ar ambiente e as culturas
agrícolas locais, além de afetar a saúde da população. Um artigo publicado no
Nigerian Medical Journal, em 2013, estima que a poluição generalizada pode
levar a uma redução de 60% na segurança alimentar das famílias e um aumento de
24% dos casos de desnutrição infantil.
Fonte: http://exame.abril.com.br