Uma árvore perene de dois metros
de altura terá mais ou menos 350 mil folhas em formato de agulha. E, se tudo
der certo para Gary Chastagner nesta temporada, poucas delas vão acabar no chão
da sua sala.
Como fitopatologista da
Universidade Estadual de Washington, Chastagner, 64, dirige um da meia dúzia de
laboratórios de pesquisas para árvores de Natal que existem nos EUA. Ele está trabalhando em um
projeto de US$ 1,3 milhão que sequencia o RNA de árvores para tentar descobrir
os genes associados à perda das folhas.
Por que fazer isso? “Bom, o setor
das árvores de Natal é um setor de US$ 1 bilhão”, diz ele.
A Associação Americana da Árvore
de Natal, uma entidade setorial, estima que cerca de 15 mil fazendas e
plantações irão vender mais de 20 milhões de árvores neste ano. Talvez um
quarto delas venha de propriedades de quatro a seis hectares que usam técnicas
básicas de manejo e equipamentos primitivos, segundo Dennis Tompkins, arborista
que por quase duas décadas editou a revista “American Christmas Tree Journal”.
Os maiores produtores colhem até
1 milhão de árvores por ano e as transportam de helicóptero. Uma fazenda
pequena pode cultivar até 30 mil pés.
Há 32 anos, Chastagner conduz
algumas das mais importantes pesquisas relativas ao cultivo de árvores de Natal,
inclusive investigando doenças graves das coníferas. Num dia recente no
laboratório de Chastagner, sucessivas prateleiras abrigavam centenas de galhos
cortados -talvez 5.000 no total.
O projeto, em termos mais amplos,
envolveu avaliar os hábitos e o ritmo de crescimento das árvores, a data de
surgimento dos brotos e sua resistência a doenças e as preferências do
consumidor.
Mas, na experiência de hoje, uma
técnica solitária, Kathy Riley, estava contando as folhas pontiagudas caídas de
cada galho. Ela ditava uma estimativa do percentual das folhas no chão, com
base numa escala de um a sete. Um assistente anotava esses números numa enorme
planilha.
O que os detetives do RNA esperam
descobrir é o polimorfismo de nucleotídeo único (ou seja, a variação) que
controla a queda das folhas. Os cientistas poderão usar essa informação para
desenvolver um teste genético de campo.
Então, os coletores de coníferas
em florestas e em viveiros controlados poderiam rapidamente analisar uma árvore
antes de colher suas sementes para vendê-las aos arboricultores.
No futuro, os produtores poderão
tentar manter viveiros apenas com árvores superiores. Em um recém-lançado livro sobre a
história da árvore de Natal, o alemão Bernd Brunner estabelece suas origens no
século 12 ou no século 13, vinculando-a a uma tradicional cerimônia da véspera
de Natal, a “peça do paraíso”, que recontava “a história original do banimento
de Adão e Eva do jardim”, disse Brunner, de Istambul. “Havia uma árvore verde
do paraíso”, objeto cênico que teria sido decorado com maçãs e hóstias.
Até a década de 1970, a árvore de
Natal ia parar aleatoriamente nos lares americanos, segundo Tompkins.
Lenhadores percorriam as matas e levavam o que encontrassem para o mercado. A
solução representou aquela que deve ter sido a primeira inovação hortícola no
comércio de árvores de Natal.
Uma pesquisa feita em 1964 pela
Universidade Cornell em plantações de árvores de Natal mostrou que mais de
metade dos pés estava inapta para a venda. Muitas árvores e sementes de coníferas
eram sobras dos viveiros de mudas.
Um ótimo lugar para observar como
a árvore de Natal evoluiu é a plantação de Ken e JoAnn Scholz, com 140
hectares, chamada Snowshoe Evergreen, perto do gabinete de Chastagner. Quando o
casal começou, há 40 anos, “você comprava sementes de qualquer um”, disse Ken
Scholz, 67. “Estava tudo em coleções selvagens.”
Agora, seu maior volume vem de
contratos para produzir mudas. A busca por uma árvore melhor
leva os produtores a procurar variedades menos comuns, como os abetos turcos,
coreanos e de Canaã.
Scholz fumiga o chão para
controlar ervas daninhas e afastar agentes patogênicos. Dezenas de milhares de
plantas podem ser estragadas por um punhado de mudas infectadas. “Se alguém
está confiando em mim para o cultivo de plantas, preciso usar as melhores
práticas”, disse Scholz.
Chastagner já fez algumas
pesquisas sobre o cultivo orgânico, testando vários bloqueadores naturais de
ervas daninhas.
Qual é o tamanho, então, do
mercado das árvores de Natal orgânicas? Ele respondeu sem hesitação: “Ele nem
aparece”.
(Fonte: Folha.com)