Inovações representam esperança,
novidade, desafio para alguns poucos e medo, risco, insegurança, perigo e
instabilidade para a maioria. Inovação
tecnológica é elemento gerador de mudanças que apresentam também dimensões de
ordem política, econômica e sociocultural. Para a introdução de produtos ou
serviços novos necessita-se ser criativo, paradigmático, experimentalista,
sistêmico, interdisciplinar, insatisfeito e ousado por natureza. Inovação tecnológica e design se confundem à
medida que estes buscam trabalhar sobre processos e produtos na construção de
um diálogo entre tecnologia e sociedade, tendo como base o processo criativo
humano.
No entanto, a inovação tecnológica
dentro do modelo capitalista tem sido vista exclusivamente pelo prisma da nossa
sociedade globalizada atrelada ao círculo vicioso da economia ortodoxa:
produção à consumo à crescimento econômico. A globalização estimula o superconsumo
e gera pressões sobre os recursos naturais sem contabilizar os custos sociais e
ambientais da produção. As diretrizes que norteiam os investimentos em design,
inovação e marketing (uso intensivo da mídia falada e escrita) têm como
objetivo principal o aumento de vendas de produtos, ou o estímulo ao consumo,
baseado, muitas vezes, naquilo que não nos serve. Pessoas compram coisas, sem
as quais viviam muito bem, induzidas por intensas e sofisticadas campanhas de
publicidade para aumentar o lucro daqueles que monopolizam o capital.
Para quem a inovação tecnológica
deveria tratar de introduzir a melhor técnica ou forma de organização no
contexto produtivo, com efeitos positivos avaliados não somente por meio de
critérios de rentabilidade econômica, mas também por critérios sociais a
ambientais.
Não há dúvidas que as
oportunidades de desenvolver novas tecnologias são grandes em um país que necessita
de soluções tecnológicas apropriadas para resolver seus problemas de tratamento
de lixo adequado e saneamento básico, inexistentes em mais de 70% de seus municípios,
sem contar a necessidade de desenvolvermos novas fontes de energia, que sejam
ao mesmo tempo eficientes, menos agressivas ao meio ambiente e renováveis.
No Brasil, ainda pouco se faz em
pró do potencial da biotecnologia. Maiores incentivos a pesquisas científicas
podem transformar elementos da nossa rica biodiversidade em produtos de
mercado, em áreas como de medicamentos, alimentos, cosméticos, fertilizantes,
pesticidas e solventes naturais.
A origem do design, como o conhecemos
hoje, confunde-se com o início da Revolução Industrial e tem estado
comprometido desde então com o aumento constante da produtividade defendida
pelas economias industriais. Em sua maioria, os designers na sua ‘atividade de
criação’, foram treinados para buscar a integração de fatores funcionais,
culturais, tecnológicos e econômicos, tendo como foco o aumento de vendas e de lucro.
Assim os produtos são desenvolvidos apenas para se adequarem às exigências
estético-culturais e condições técnico-econômicas da produção industrial de uma
sociedade.
Poucos têm sido os críticos de como
o design se desenvolveu em nossa sociedade industrializada, tão desvinculado do
entendimento das necessidades humanas básicas, como do funcionamento dos
ecossistemas naturais. O estilo e a imagem têm sempre predominado sobre
durabilidade e a eficiência. O processo de globalização desvirtuou o forma como
o design havia sido concebido na Escola de Bauhaus, na Alemanha, no início do
século 20, onde a ideia era de casar a arte e a indústria, promovendo uma
harmoniosa relação entre os fundamentos estéticos do design e da arquitetura
moderna com a linha de montagem industrial.
O desenho industrial ou design,
acabou por se tornar um instrumento para a consecução do oposto ao pretendido
por seus idealizadores originais, convertendo-se não num elemento de
sensibilidade dos consumidores, e sim num fator de deseducação sensível, na
medida que se impõe um padrão esteticamente neutro, desprovido de valores e expressões culturais.
Isto provoca a desidentificação entre usuário e o produto, além da
ausência de vínculos que não sejam exclusivamente utilitários e funcionais,
facilitando assim a descartabilidade do objeto.
Entre aqueles que também
reconhecem o impacto muitas vezes negativo da atividade do design na área social,
cultural e ambiental está o designer, educador e ambientalista Victor Papanek,
que publicou em 1971, Design for the Real World – Human Ecology and Social Change,
onde ele defende um design socialmente e moralmente mais responsável. Já em The
Green Imperative -
Ecology and Ethics
in Design and Architecture (Papanek, 1995), apresenta
uma visão diferenciada de como poderia ser o
papel do design
e do designer na transformação de
uma sociedade “industrial-destruidora”
para uma “ecológica-responsável”.
O design é instrumento para a
conexão do que é possível no campo das tecnologias limpas com aquilo que é culturalmente
desejável no campo da crescente preocupação com o meio ambiente. Com essa
capacidade de perceber e
interpretar potenciais técnicos
e expectativas sociais
e projetá-los em novas soluções, o design pode, por conseguinte,
acelerar positivamente a mudança de processos de produção e consumo.
Se faz necessária uma estratégia
para unir design e sustentabilidade através da implantação de Ciclo de Vida dos
Produtos (Lyfe Cicle Design - LCD) e das estratégias “projetuais’ (de design)
para a integração dos requisitos ambientais nas fases de desenvolvimento do
produto.A estratégia sistêmica do LCD incorpora:
- Minimização de recursos: Reduzir o uso de materiais e de energia;
- Escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental:
- Selecionando os materiais, os processos e as fontes energéticas de maior ecocompatibilidade;
- Otimização da vida dos produtos: Projetar artefatos que perdurem;
- Extensão da vida dos materiais: Projetar em função da valorização (reaplicação) dos materiais descartados;
- Facilidade de desmontagem: Projetar em função de separação das partes dos materiais.
Esta estratégia não se justifica
somente pela preocupação ambiental, mas também econômica, uma vez que a redução
de materiais e energia salvam dinheiro. Por outro lado quando minimiza-se ou
elimina-se resíduos, também
economiza-se na coleta,
tratamento e transporte deste. Além do fato de que hoje já
não é mais possível ignorar a agregação de valor que um produto sustentável representa
para uma estratégia de competividade empresarial.
Um novo modelo de produção pode
ser implantado quando a proposta de um design de baixo impacto ambiental se
alia a da ecologia industrial. Esta não é somente uma “ecoindústria”, sinal da
preocupação da indústria com a proteção do meio ambiente. Também não são os
produtos “verdes” ou a reciclagem parcial dos detritos. Mas sim a
reconfiguração completa dos processos industriais, desde a regulação dos fluxos
de energia, matérias primas e produtos a partir da reutilização racional dos detritos.
PhD Eloy Fassi Casagrande Jr
se cada um fazer a sua parte da certo, mas o que não podemos nunca afirmar é que é assim mesmo, pois mudar é difícil, mas não impossível (P.F)
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