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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Inovação Tecnológica e Design versus Sustentabilidade


Inovações representam esperança, novidade, desafio para alguns poucos e medo, risco, insegurança, perigo e instabilidade para a maioria.  Inovação tecnológica é elemento gerador de mudanças que apresentam também dimensões de ordem política, econômica e sociocultural. Para a introdução de produtos ou serviços novos necessita-se ser criativo, paradigmático, experimentalista, sistêmico, interdisciplinar, insatisfeito e ousado por natureza.  Inovação tecnológica e design se confundem à medida que estes buscam trabalhar sobre processos e produtos na construção de um diálogo entre tecnologia e sociedade, tendo como base o processo criativo humano.

No entanto, a inovação tecnológica dentro do modelo capitalista tem sido vista exclusivamente pelo prisma da nossa sociedade globalizada atrelada ao círculo vicioso da economia ortodoxa: produção à consumo à crescimento econômico. A globalização estimula o superconsumo e gera pressões sobre os recursos naturais sem contabilizar os custos sociais e ambientais da produção. As diretrizes que norteiam os investimentos em design, inovação e marketing (uso intensivo da mídia falada e escrita) têm como objetivo principal o aumento de vendas de produtos, ou o estímulo ao consumo, baseado, muitas vezes, naquilo que não nos serve. Pessoas compram coisas, sem as quais viviam muito bem, induzidas por intensas e sofisticadas campanhas de publicidade para aumentar o lucro daqueles que monopolizam o capital.

Para quem a inovação tecnológica deveria tratar de introduzir a melhor técnica ou forma de organização no contexto produtivo, com efeitos positivos avaliados não somente por meio de critérios de rentabilidade econômica, mas também por critérios sociais a ambientais.

Não há dúvidas que as oportunidades de desenvolver novas tecnologias são grandes em um país que necessita de soluções tecnológicas apropriadas para resolver seus problemas de tratamento de lixo adequado e saneamento básico, inexistentes em mais de 70% de seus municípios, sem contar a necessidade de desenvolvermos novas fontes de energia, que sejam ao mesmo tempo eficientes, menos agressivas ao meio ambiente e renováveis.

No Brasil, ainda pouco se faz em pró do potencial da biotecnologia. Maiores incentivos a pesquisas científicas podem transformar elementos da nossa rica biodiversidade em produtos de mercado, em áreas como de medicamentos, alimentos, cosméticos, fertilizantes, pesticidas e solventes naturais.

A origem do design, como o conhecemos hoje, confunde-se com o início da Revolução Industrial e tem estado comprometido desde então com o aumento constante da produtividade defendida pelas economias industriais. Em sua maioria, os designers na sua ‘atividade de criação’, foram treinados para buscar a integração de fatores funcionais, culturais, tecnológicos e econômicos, tendo como foco o aumento de vendas e de lucro. Assim os produtos são desenvolvidos apenas para se adequarem às exigências estético-culturais e condições técnico-econômicas da produção industrial de uma sociedade.

Poucos têm sido os críticos de como o design se desenvolveu em nossa sociedade industrializada, tão desvinculado do entendimento das necessidades humanas básicas, como do funcionamento dos ecossistemas naturais. O estilo e a imagem têm sempre predominado sobre durabilidade e a eficiência. O processo de globalização desvirtuou o forma como o design havia sido concebido na Escola de Bauhaus, na Alemanha, no início do século 20, onde a ideia era de casar a arte e a indústria, promovendo uma harmoniosa relação entre os fundamentos estéticos do design e da arquitetura moderna com a linha de montagem industrial.

O desenho industrial ou design, acabou por se tornar um instrumento para a consecução do oposto ao pretendido por seus idealizadores originais, convertendo-se não num elemento de sensibilidade dos consumidores, e sim num fator de deseducação sensível, na medida que se impõe um padrão esteticamente neutro, desprovido de valores e expressões  culturais.  Isto provoca a desidentificação entre usuário e o produto, além da ausência de vínculos que não sejam exclusivamente utilitários e funcionais, facilitando assim a descartabilidade do objeto.

Entre aqueles que também reconhecem o impacto muitas vezes negativo da atividade do design na área social, cultural e ambiental está o designer, educador e ambientalista Victor Papanek, que publicou em 1971, Design for the Real World – Human Ecology and Social Change, onde ele defende um design socialmente e moralmente mais responsável. Já em The Green  Imperative  -  Ecology  and  Ethics  in  Design  and Architecture (Papanek, 1995), apresenta uma visão diferenciada de como poderia ser o  papel  do  design  e  do  designer  na  transformação  de  uma  sociedade “industrial-destruidora” para uma “ecológica-responsável”.

O design é instrumento para a conexão do que é possível no campo das tecnologias limpas com aquilo que é culturalmente desejável no campo da crescente preocupação com o meio ambiente. Com essa capacidade de  perceber  e  interpretar  potenciais  técnicos  e  expectativas  sociais  e projetá-los em novas soluções, o design pode, por conseguinte, acelerar positivamente a mudança de processos de produção e consumo.

Se faz necessária uma estratégia para unir design e sustentabilidade através da implantação de Ciclo de Vida dos Produtos (Lyfe Cicle Design - LCD) e das estratégias “projetuais’ (de design) para a integração dos requisitos ambientais nas fases de desenvolvimento do produto.A estratégia sistêmica do LCD incorpora:
  • Minimização de recursos: Reduzir o uso de materiais e de energia;
  • Escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental:
  • Selecionando os materiais, os processos e as fontes energéticas de maior ecocompatibilidade;
  • Otimização da vida dos produtos: Projetar artefatos que perdurem;
  • Extensão da vida dos materiais: Projetar em função da valorização (reaplicação) dos materiais descartados;
  • Facilidade de desmontagem: Projetar em função de separação das partes dos materiais.

Esta estratégia não se justifica somente pela preocupação ambiental, mas também econômica, uma vez que a redução de materiais e energia salvam dinheiro. Por outro lado quando minimiza-se ou elimina-se  resíduos,  também  economiza-se  na  coleta,  tratamento  e  transporte deste. Além do fato de que hoje já não é mais possível ignorar a agregação de valor que um produto sustentável representa para uma estratégia de competividade empresarial.

Um novo modelo de produção pode ser implantado quando a proposta de um design de baixo impacto ambiental se alia a da ecologia industrial. Esta não é somente uma “ecoindústria”, sinal da preocupação da indústria com a proteção do meio ambiente. Também não são os produtos “verdes” ou a reciclagem parcial dos detritos. Mas sim a reconfiguração completa dos processos industriais, desde a regulação dos fluxos de energia, matérias primas e produtos a partir da reutilização racional dos detritos.

PhD Eloy Fassi Casagrande Jr

Um comentário:

  1. se cada um fazer a sua parte da certo, mas o que não podemos nunca afirmar é que é assim mesmo, pois mudar é difícil, mas não impossível (P.F)

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