Na prática, as áreas protegidas
vão diminuir.
O debate de mudanças na
legislação florestal brasileira ganhou força no Congresso nos últimos quatro
anos, após o governo do ex-presidente Lula editar um decreto prevendo multa
para quem não cumprisse os índices de reserva legal na propriedade. A possibilidade
mais concreta de punição, aliada a restrições a crédito, fiscalização por
satélite e pressão do Ministério Público, acendeu o sinal de alerta no campo.
O antigo Código Florestal,
sancionado em 1965 e depois alterado pontualmente, passou a ser mais fortemente
criticado pelos produtores.
Durante os debates no Congresso,
a aplicação das multas pelo descumprimento da reserva legal foi adiada seguidas
vezes. Até que, com a aprovação de um novo código em maio (Lei 12.651/12) e algumas alterações em outubro (Lei 12.727/12), produtores e governo chegaram a um consenso
sobre como a regularização poderia ser flexibilizada conforme o tamanho da
propriedade e o período de ocorrência do desmatamento.
A reserva legal continua variando
entre 20% e 80% de mata nativa na propriedade, dependendo da região do País.
Mas, pela nova lei, o proprietário pode incluir no cálculo da reserva outras
áreas obrigatórias de preservação, como as matas às margens de rios, por
exemplo. Isso era bastante restrito antes.
Proteção menor
Na prática, as áreas protegidas vão diminuir, o que preocupa ambientalistas. As regras mais flexíveis vão atingir, principalmente, as regiões do País mais carentes de vegetação nativa e, por isso, mais sujeitas a problemas de água e fertilidade do solo.
Essa lei criou duas categorias de
cidadãos: os que respeitaram a lei terão obrigação de preservar mais do que os
que não preservaram. A lei trouxe anistia maior para os chamados pequenos
agricultores, mas muitas fazendas no Brasil estão divididas em mais uma
matrícula. No cartório, é mais de uma fazenda. Se o decreto não proibir o
cadastramento fracionado de imóveis, essa anistia que foi direcionada para os
pequenos produtores tende a se espraiar para médios e grandes.
Futuras mudanças
O ex-ministro da Agricultura e
deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR) concorda que a prática poderá levar a
novas mudanças no código. A diferença, segundo ele, é que agora a maioria dos
produtores conta com uma norma possível de aplicação.
[O novo código] tranquiliza mais
ou menos 90% dos produtores. Mas ainda teremos, com certeza, alguns problemas
para o futuro à medida que o código for sendo aplicado. A legislação anterior
não gerava problemas porque não era aplicada.
O Congresso devia criar uma
comissão especial para acompanhar a implantação e estudar questões básicas,
como custo de implantação. O debate da aplicação da legislação passe também
pela busca de técnicas agrícolas menos agressivas ao meio ambiente.
O debate que precisamos fazer é
de aprimoramento no sentido de termos mais tecnologia menos agressiva ao meio
ambiente. Que não tenha a necessidade de o Brasil ser o campeão mundial de uso
de veneno na lavoura. Como vamos preservar melhor a água. Esse é o debate do
futuro.
Agência Câmara de Notícias
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