Se pararmos para pensar, o progresso da ciência e da tecnologia como a conhecemos hoje, nossos ecossistemas naturais têm pagado um alto preço por esta evolução. Desde então desenvolver e conservar têm sido um dos maiores paradoxos com a qual a humanidade tem de conviver. A degradação ambiental sem fronteiras iniciada a partir da Revolução Industrial do Século XVIII, e acentuada com o advento da globalização no Século XX, levou a fortes questionamentos no início dos anos 60. Desde então, o modelo econômico vigente e seus negativos impactos sociais e ambientais vem sendo apontados por especialistas atuantes em diversas áreas.
Em várias partes do mundo vem crescendo o uso do conceito elaborado por acadêmicos canadenses conhecido como “pegada ecológica” (ecological footprint) que avalia a capacidade ecológica necessária para sustentar o consumo de produtos e estilos de vida. Calcula-se uma pegada ecológica somando fluxos de material e energia requeridos para sustentar qualquer economia ou segmento da economia. Tais fluxos são então convertidos em medidas padrão da produção que se exige das regiões de terra e água. Pegada é a superfície total da terra necessária para sustentar determinada atividade ou um produto.
O relatório do WWF (Fundo Mundial para a Natureza) sobre a pegada de hoje da humanidade oferece um flagrante dos ecossistemas críticos dos quais dependemos e uma medida do nosso uso coletivo dos recursos naturais renováveis tais como terra cultivável, pastagens, florestas, sítios de pesca e assim por diante.
O processo de globalização acelerou o aumento da pobreza mundial e suas consequências como deterioração da saúde e da dignidade humana. Esta não tem trazido à maioria dos trabalhadores uma melhor qualidade de vida, ao contrário, tem colaborado para o aumento de maior concentração de renda entre os mais ricos em detrimento da diminuição de renda entre os mais pobres.
A partir dos anos 80 o termo “ecodesenvolvimento” e “desenvolvimento sustentável”, se convergem nas suas propostas, apontando para a necessidade do equilíbrio entre o ambiental, o social e o econômico. Enquanto que países desenvolvidos colocam a ênfase da sustentabilidade na questão ambiental, vemos a preocupação de países em desenvolvimento em incluir também a questão socioeconômica.
Em fato, a sustentabilidade socioambiental somente poderá ocorrer quando implantar-se ações sistêmicas capazes de transformar modelos tecno-econômicos cartesianos em resoluções que promovam real qualidade de vida as atuais e futuras gerações, respeitando nossas diversidades culturais e potencializando nossas características regionais. Necessita-se colocar o direito a um ambiente saudável no mesmo nível de direito ao acesso a renda, saúde, habitação, educação e lazer.
Não há dúvidas que as oportunidades de desenvolver novas tecnologias são grandes em um país que necessita de soluções tecnológicas apropriadas para resolver seus problemas de tratamento de lixo adequado e saneamento básico, inexistentes em mais de 70% de seus municípios, sem contar a necessidade de desenvolvermos novas fontes de energia, que sejam ao mesmo tempo eficientes, menos agressivas ao meio ambiente e renováveis.
No Brasil, ainda pouco se faz em pró do potencial da biotecnologia. Maiores incentivos a pesquisas científicas podem transformar elementos da nossa rica biodiversidade em produtos de mercado, em áreas como de medicamentos, alimentos, cosméticos, fertilizantes, pesticidas e solventes naturais.
Segundo a Conservation International, dos 17 países mais ricos em biodiversidade do mundo, o Brasil está em primeiro lugar com 23% do total de espécies do planeta. Apenas na Amazônia, são encontradas mais 20.000 espécies endêmicas, enquanto o México tem cerca de 3.000, a Alemanha, 19 e a Suíça, apenas uma planta. O impulso a esta “bio-economia” aliada a medidas de proteção ao conhecimento das populações tradicionais e indígenas, conhecedores de plantas e fungos que podem vir a ser tornar produtos de mercado, pode gerar renda e reduzir a miséria dos povos da floresta.
Revista Educação & Tecnologia
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