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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Os danos do desabamento no porto de Santana já começam a ser sentidos na qualidade da água


O acidente ocorrido no píer da empresa Anglo American causou danos ambientais em uma área de 16 quilômetros quadrados. Ao todo, 500 mil toneladas de minério de ferro, 200 metros quadrados da estrutura do porto caíram no rio Amazonas. Os danos ambientais são considerados “gravíssimos”. Pode ocorrer assoreamento do rio, caso não seja possível retirar todo o material que foi para o fundo e, principalmente, pode afetar a biologia aquática e os seres humanos que fazem uso dessa água. O ferro (Fe) em excesso no organismo causa: vômitos, diarreias e problemas intestinais. A comunidade do Elesbão já sente os reflexos do sinistro.


No corpo humano, o ferro atua na formação da hemoglobina (pigmento do glóbulo vermelho que transporta oxigênio dos pulmões para os tecidos). A sua carência pode causar anemia e seu excesso pode aumentar a incidência de problemas cardíacos e diabetes. A avaliação do ferro nas águas para o consumo humano, se dá em função de suas propriedades organolépticas. O acúmulo de ferro no fígado, no pâncreas e no coração pode levar a cirrose e tumores hepáticos, diabetes mellitus e insuficiência cardíaca, respectivamente. O ferro em excesso pode ajudar a gerar quantidades excessivas de radicais livres que atacam as moléculas celulares, desta forma aumentando o número de moléculas potencialmente carcirogênicas dentro deles.

O ferro, apesar de não se constituir em um tóxico, traz diversos problemas para o abastecimento público de água. Confere cor e sabor à água, provocando manchas em roupas e utensílios sanitários. Também traz o problema do desenvolvimento de depósitos em canalizações e de ferro-bactérias, provocando a contaminação biológica da água na própria rede de distribuição. Por estes motivos, o ferro constitui-se em padrão de potabilidade, tendo sido estabelecida a concentração limite de 0,3 mg/L na Portaria 518 do Ministério da Saúde. É também padrão de emissão de esgotos e de classificação das águas naturais.

As águas que contêm ferro caracterizam-se por apresentar cor elevada e turbidez baixa. Os flocos formados geralmente são pequenos, ditos “pontuais”, com velocidades de sedimentação muito baixa. Em muitas estações de tratamento de água, este problema só é resolvido mediante a aplicação de cloro, denominada de pré-cloração. Através da oxidação do ferro pelo cloro, os flocos tornam-se maiores e a estação passa a apresentar um funcionamento aceitável. No entanto, é conceito clássico que, por outro lado, a pré-cloração de águas deve ser evitada, pois em caso da existência de certos compostos orgânicos chamados precursores, o cloro reage com eles formando trihalometanos, associados ao desenvolvimento do câncer.

Somente o cloro não limpa e nem melhora o gosto da água com excesso de ferro. É necessário o uso de filtro com carbono ativado ou filtro de carvão para remover o ferro e limpar a água. Sim, o nosso corpo necessita de ferro, mas não na forma de água contaminada.

Operadora do píer no porto de Santana - AP, empresa Anglo American, recebeu multa de R$ 21 milhões. Ao todo, 500 mil toneladas de minério de ferro estavam no porto durante o acidente. Uma legislação eficaz é aquela cuja importância é entendida por todos e é seguida, não pelo fato de ser punitiva, mas pelo seu caráter disciplinador do uso dos recursos naturais. A água é um recurso aparentemente abundante, mas que tem distribuição bastante irregular no planeta. O uso sem matéria disciplinadora pode levar a sérios conflitos no futuro (já presentes em algumas regiões), uma vez que a poluição não tem fronteiras. Prevenir a poluição das águas através de uma legislação tem sido medida de controle adotada por muitos países. No Brasil, a Resolução CONAMA no 020/86 e o Código das Águas, fazem parte da legislação disciplinadora dos usos das águas, que só precisa de maior divulgação dentro de um programa de educação ambiental que motive a população, para que possa tornar-se eficaz. A criação de uma consciência pública e industrial da importância vital da conservação do meio ambiente seria mais eficaz, sem dúvida, do que a aplicação pura e simples de sanções penais aos infratores.

Para se reduzir os grandes impactos da mineração, será necessário aumentar as exigências ambientais e a fiscalização, obrigando a mudanças no comportamento das mineradoras. Os preços dos minerais devem igualmente refletir o enorme custo socioambiental da sua exploração, embora isso vá implicar no aumento do preço final dos produtos. Isso seria uma vantagem, ao contrário do que supõem os economistas, pois aumentaria a eficiência e diminuiria o desperdício no uso dessas matérias-primas. Mas, assim, voltamos a um assunto recorrente: o atual nível de consumo da sociedade global é insustentável. Se desejarmos diminuir as profundas consequências da mineração, a par das medidas citadas e de muitas outras, precisamos controlar nossa síndrome consumista.

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