O acidente ocorrido no píer da empresa
Anglo American causou danos ambientais em uma área de 16 quilômetros quadrados.
Ao todo, 500 mil toneladas de minério de ferro, 200 metros quadrados da
estrutura do porto caíram no rio Amazonas. Os danos ambientais são considerados
“gravíssimos”. Pode ocorrer assoreamento do rio, caso não seja possível retirar
todo o material que foi para o fundo e, principalmente, pode afetar a biologia
aquática e os seres humanos que fazem uso dessa água. O ferro (Fe) em excesso no
organismo causa: vômitos, diarreias e problemas intestinais. A comunidade do
Elesbão já sente os reflexos do sinistro.
No corpo humano, o ferro atua na
formação da hemoglobina (pigmento do glóbulo vermelho que transporta oxigênio
dos pulmões para os tecidos). A sua carência pode causar anemia e seu excesso
pode aumentar a incidência de problemas cardíacos e diabetes. A avaliação do
ferro nas águas para o consumo humano, se dá em função de suas propriedades
organolépticas. O acúmulo de ferro no fígado, no pâncreas e no coração pode
levar a cirrose e tumores hepáticos, diabetes mellitus e insuficiência
cardíaca, respectivamente. O ferro em excesso pode ajudar a gerar quantidades
excessivas de radicais livres que atacam as moléculas celulares, desta forma
aumentando o número de moléculas potencialmente carcirogênicas dentro deles.
O ferro, apesar de não se
constituir em um tóxico, traz diversos problemas para o abastecimento público
de água. Confere cor e sabor à água, provocando manchas em roupas e utensílios
sanitários. Também traz o problema do desenvolvimento de depósitos em
canalizações e de ferro-bactérias, provocando a contaminação biológica da água
na própria rede de distribuição. Por estes motivos, o ferro constitui-se em
padrão de potabilidade, tendo sido estabelecida a concentração limite de 0,3
mg/L na Portaria 518 do Ministério da Saúde. É também padrão de emissão de esgotos
e de classificação das águas naturais.
As águas que contêm ferro
caracterizam-se por apresentar cor elevada e turbidez baixa. Os flocos formados
geralmente são pequenos, ditos “pontuais”, com velocidades de sedimentação
muito baixa. Em muitas estações de tratamento de água, este problema só é
resolvido mediante a aplicação de cloro, denominada de pré-cloração. Através da
oxidação do ferro pelo cloro, os flocos tornam-se maiores e a estação passa a
apresentar um funcionamento aceitável. No entanto, é conceito clássico que, por
outro lado, a pré-cloração de águas deve ser evitada, pois em caso da
existência de certos compostos orgânicos chamados precursores, o cloro reage
com eles formando trihalometanos, associados ao desenvolvimento do câncer.
Somente o cloro não limpa e nem
melhora o gosto da água com excesso de ferro. É necessário o uso de filtro com
carbono ativado ou filtro de carvão para remover o ferro e limpar a água. Sim,
o nosso corpo necessita de ferro, mas não na forma de água contaminada.
Operadora do píer no porto de
Santana - AP, empresa Anglo American, recebeu multa de R$ 21 milhões. Ao todo,
500 mil toneladas de minério de ferro estavam no porto durante o acidente. Uma
legislação eficaz é aquela cuja importância é entendida por todos e é seguida,
não pelo fato de ser punitiva, mas pelo seu caráter disciplinador do uso dos
recursos naturais. A água é um recurso aparentemente abundante, mas que tem
distribuição bastante irregular no planeta. O uso sem matéria disciplinadora
pode levar a sérios conflitos no futuro (já presentes em algumas regiões), uma
vez que a poluição não tem fronteiras. Prevenir a poluição das águas através de
uma legislação tem sido medida de controle adotada por muitos países. No
Brasil, a Resolução CONAMA no 020/86 e o Código das Águas, fazem parte da
legislação disciplinadora dos usos das águas, que só precisa de maior
divulgação dentro de um programa de educação ambiental que motive a população,
para que possa tornar-se eficaz. A criação de uma consciência pública e
industrial da importância vital da conservação do meio ambiente seria mais
eficaz, sem dúvida, do que a aplicação pura e simples de sanções penais aos
infratores.
Para se reduzir os grandes
impactos da mineração, será necessário aumentar as exigências ambientais e a
fiscalização, obrigando a mudanças no comportamento das mineradoras. Os preços
dos minerais devem igualmente refletir o enorme custo socioambiental da sua
exploração, embora isso vá implicar no aumento do preço final dos produtos.
Isso seria uma vantagem, ao contrário do que supõem os economistas, pois
aumentaria a eficiência e diminuiria o desperdício no uso dessas
matérias-primas. Mas, assim, voltamos a um assunto recorrente: o atual nível de
consumo da sociedade global é insustentável. Se desejarmos diminuir as
profundas consequências da mineração, a par das medidas citadas e de muitas
outras, precisamos controlar nossa síndrome consumista.
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