Quando as pessoas descobriram que
podiam matar umas às outras com substâncias mortais em vez de armas, um novo
jeito de assassinar surgiu, mas o truque não dura para sempre. Alguns venenos
saíram de moda conforme as pessoas foram descobrindo como eles funcionavam. E o
texto abaixo conta um pouco a história de cada um deles.
Gregos e romanos: Cicuta e acônito
Comecemos com os clássicos. Na
época dos gregos e romanos, a cicuta era um famoso último recurso que foi
consumido por pessoas como Sócrates. Os registros de sua morte dão conta de um
evento cheio de paz, mas a morte por cicuta é bem agonizante: primeiramente
paralisa os músculos e depois o sistema respiratório, matando a pessoa
asfixiada.
O acônito vem de uma planta de
mesmo nome e fez uma vítima famosa: o imperador Cláudio, que teria sido
envenenado pela própria esposa. O veneno causa vômitos e diarreia, e depois
causa arritmia cardíaca até a morte.
A cicuta e o acônito foram
favoritos entre os gregos e romanos, a ponto de eles não usarem apenas o veneno
diretamente, mas também a carne das cotovias, que comiam tanta cicuta que se
acreditava que a carne delas era envenenada. Curiosamente, a mesma planta era
receitada por médicos para curar machucados, convulsões e espasmos musculares.
Ainda no século XX, os médicos
receitavam a planta para tratar resfriados. Com o tempo, os efeitos venenosos
foram mais conhecidos e o veneno foi abandonado.
Camponesas medievais: Beladona e
Mandrágora
A beladona tem esse nome porque
camponesas medievais usavam-na como uma espécie de maquiagem nos olhos, para
contrair as pupilas, e nas bochechas, para dar um efeito parecido com o blush.
Alguns historiadores dizem que, de fato, foi esse o veneno usado em Cláudio por
sua esposa. Outros dizem que Macbeth usou o veneno contra um exército inteiro.
A planta também tinha
propriedades alucinógenas. De fato, um dos seus usos mais populares foi pelas
bruxas que faziam poções para terem a alucinação de estarem voando. Uma
quantidade excessiva (leia-se: uma folha) era o suficiente para a pessoa ter
náuseas, alucinações e pulsação rápida.
O envenenamento por mandrágora
ocorria em todo lugar, especialmente nos habitats da planta, ou seja, Espanha e
Portugal, onde ela fornece frutos comestíveis, mas ainda mantém propriedades
venenosas em suas raízes, tão fortes que nem era necessário comê-las para se
envenenar. Apenas o contato com a pele bastava para afetar severamente o fígado
e os rins, o que faz dela um veneno mais lento, mas muito eficaz e prático.
Assim como a cicuta e o acônito,
essas plantas foram usadas por certas pessoas em uma determinada época, e hoje
elas caíram em desuso, pois suas propriedades já são conhecidas e é difícil
manter as plantas em casa sem chamar a atenção, especialmente um arbusto de
beladona, com alguns metros de altura.
Senhoras e senhores da indústria:
Estricnina, cianeto e arsênico
Comecemos pelo mais comum: o
cianeto está em todo lugar. Incluindo na sua comida, nas substâncias químicas à
nossa volta. Além de comum, ele é de uso antigo, mas só em 1782 foram
descobertas suas propriedades venenosas, quando um químico sueco chamado
Scheele destilou cianeto de hidrogênio.
Primeiramente, o composto era
usado em tintas azuis, mas quando os exércitos descobriram que ele matava
pessoas de modo rápido e indolor, ele começou a ser usado como arma. Espiões
sempre levavam consigo uma cápsula do veneno para tomá-lo caso fossem
descobertos. Ele deixa a pessoa desacordada e, depois, provoca convulsões e a
inabilidade de absorver oxigênio, o que provoca a morte.
Como todos os venenos abordados
aqui, este também começou a ser conhecido mais profundamente, mas ainda está em
uso, especialmente por psicopatas ou assassinos inescrupulosos.
A estricnina levou um tempo para
se tornar popular no Ocidente, chegando à Europa só no fim do século XVIII, mas
já era usada (também como remédio) na China e na Índia por séculos.
Este composto levou ainda mais
tempo para ser destilado e isolado, e quando isso foi feito, ela se tornou um
veneno muito popular para pássaros no interior e ratos na cidade. Mas isso
tornou o composto muito acessível a quem quisesse envenenar humanos. E o
criminoso teria que ser muito cruel de escolher a substância, conhecendo seus
efeitos.
Ela causa espasmos musculares
incontroláveis, a boca espuma, e a morte só vem quando os músculos ficam tão
tensos e erráticos que a respiração torna-se inviável.
O primeiro caso na Inglaterra foi
o do médico William Palmer, que matou seus associados de jogos de azar. O
próximo foi Thomas Neil Cream, que envenenou várias prostitutas. O veneno ficou
famoso no primeiro suspense de Agatha Christie envolvendo um assassinato, The
Mysterious Affair at Styles (traduzido no Brasil como O Misterioso Caso de
Styles).
Mas os efeitos do veneno eram tão
rápidos e dramáticos que o assassino dificilmente sairia impune do crime. As
empresas que atualmente fazem venenos para animais colocam componentes que
tingem ou dão sabor ao composto para que a estricnina não seja consumida.
O arsênico é, talvez, o mais
famoso e mais usado dos venenos. Ele já era possivelmente conhecido na época
dos romanos, foi chamado de Rei dos Venenos, e foi o favorito dos Bórgias.
Mas foi só na era vitoriana que
ele começou a ficar realmente famoso, e se tornou conhecido como “veneno de
senhoritas”, pois era usado pelas moças da época para fazer o efeito contrário
da beladona em camponesas medievais: elas usavam o arsênico para ganhar uma
face branca/pálida. Pequenas quantidades, contudo, eram o suficiente para matar
um homem, e de fato, mataram. Muito.
O caso mais famoso de
envenenamento por arsênico veio em 1857 e envolveu Madeleine Smith, que
envenenou seu namorado por ele ser um chantagista caçador de fortunas.
Quando ele ameaçou mostrar as
cartas de amor recebidas dela para o pai de Madeleine, ela fez a “gentileza” de
convidá-lo para um chocolate na sacada de sua janela. O namorado adoeceu, mas
logo estava bom e retornou na noite seguinte para mais um pouco de chocolate.
Aí, ele não resistiu mais. Foram encontrados 17 grãos de arsênico no estômago
dele, e uma carta de Madeleine pedindo que ele a encontrasse. Ela foi
inocentada, mas seu filme ficou tão queimado na região que ela trocou de nome e
foi para os EUA.
O julgamento de Madeleine e o
fato de que a ciência já estava avançada o suficiente para obter provas
estomacais, marcou o fim de uma era. O arsênico durou muito porque era
invisível antes e depois de ser usado. Os seus efeitos – suor, confusão,
câimbras musculares e dor de estômago – poderiam ser classificados como uma
intoxicação alimentar, mas isso acabou. E como a notícia do julgamento de
Madeleine se espalhou rapidamente, o seu uso diminuiu bastante, pelo menos de
acordo com os registros oficiais.
fonte: www.jornalciencia.com
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