Responsável por 40% do consumo de
energia no mundo, padrão de edificação atual é insustentável. A boa notícia:
tecnologia já está disponível e não há perda de conforto. Falta o mercado se
adaptar.
Em uma área verde a duas horas do
Rio de Janeiro começa a ganhar forma o que pode ser a casa do futuro. A água
dos chuveiros e torneiras será reaproveitada para a descarga dos banheiros, e o
esgoto passará por tratamento nas instalações de cada uma das oito residências
do condomínio, na região de Pedro do Rio, distrito de Petrópolis.
O planejamento de iluminação, com
amplas janelas e luzes de led de baixo consumo, deve reduzir a conta de energia
elétrica em até 30%. O aquecimento de água é feito com placas solares. Apesar
do padrão sofisticado, não há previsão de ar-condicionado. Em vez disso, há um
telhado com cobertura vegetal, que reduz em 30% a variação de temperatura em
relação ao ambiente externo. A primeira casa está em construção, e os preços
começam em 1,1 milhão de reais.
O projeto, uma exceção nos
padrões brasileiros, segue regras que já vigoraram na Europa e nos Estados
Unidos, onde há cerca de 200.000 construções com o selo Breeam (Building
Research Establishment Environmental Assessment Method), considerada a mais
rigorosa certificação em matéria de exigências ambientais.
O condomínio Movimento Terras foi
pensado para ser uma casa de campo de luxo. Mas morar e construir de forma
“sustentável” caminha para ser o padrão em um futuro próximo. O modo de vida em um mundo mais
preocupado com o meio ambiente passa, necessariamente, por transformações na
forma de morar e fazer casas. O padrão de edificação nos dias de hoje é algo
altamente poluente – ou, para usar a palavra do momento, insustentável.
Prédios comerciais e residenciais
são responsáveis por 40% do consumo anual de energia do mundo, por um terço dos
recursos naturais consumidos pela sociedade – incluídos na conta 12% de toda a
água potável da terra – e por 40% do lixo sólido. Os recursos são consumidos de
forma inadequada na construção e ao longo da vida útil dos imóveis, com o alto
consumo de energia para climatização, iluminação e aquecimento de água.
A mudança no padrão mundial de
edificação é uma recomendação da ONU para que o planeta ponha em prática a
"economia verde", que estará em debate durante a Rio+20, em
junho. De forma geral, conhecimento, técnicas e materiais para que casas e
edifícios sejam ambientalmente mais adequados são conhecidos. Mas as
experiências nesse sentido ainda são limitadas.
No Brasil, o conjunto
habitacional Rubens Lara, em Cubatão, é considerado um exemplo de construção
‘verde’. No lugar de madeira, esquadrias metálicas; em vez de eletricidade para
esquentar a água, energia solar. As medições de gás, energia e água são
individuais – o que estimula cada família a controlar melhor o seu consumo.
As 1.840 unidades do Rubens Lara
fazem parte do projeto do governo paulista que prevê a remoção de 7.760
famílias moradoras de áreas irregulares do parque Serra do Mar. O Rubens Lara
foi reconhecido pelo programa Iniciativa de Habitação Social Sustentável
(Sushi), que faz parte do programa da ONU para o meio ambiente.
O Estado de São Paulo tem
investido na construção de casas ambientalmente corretas desde o governo
passado. As moradias têm inovações que passam pelo aquecimento solar, pé
direito com cerca de 2,60 m (os convencionais têm 2,40), janelas maiores para
ajudar a ventilar e iluminar.
Com as mudanças houve redução de
30% no consumo de energia nessas residências. De 2009 a 2012, foram construídas
60 mil unidades habitacionais verdes bancadas pelo estado.
Como trata-se de exceção, a
construção de um edifício sustentável hoje ainda é cerca de 10% mais cara. Os
benefícios vêm depois, com os gastos menores nas contas de consumo e na
manutenção. O investimento nessa tendência de construção facilita a manutenção,
reduz a incidência de doenças e estimula a família no emprego e na escola. Se
você entrega uma casa com sistemas mais práticos, até nos materiais de limpeza
há economia. A tendência mundial hoje é aumentar as moradias. Em uma casa com
padrões mínimos de conforto, fácil de manter e limpar, as famílias produzem
mais, crianças aprendem melhor.
Ainda são poucas as edificações
brasileiras com certificados de sustentabilidade. O selo LEED, um dos mais
conhecidos, foi dado a apenas 500 prédios no país.
É difícil popularizar porque há
um custo. Mas as classes média e alta estão tendo maior aceitação hoje. Em
parte, por uma expansão da consciência ecológica, mas também porque chegam ao
mercado produtos ‘verdes’ com maior qualidade. Em São Paulo, há mais prédios
com certificação porque há uma expansão da construção para a classe A e pela
existência de muitas multinacionais que querem manter o padrão usado lá fora.
Ainda assim, no Brasil, somente
1% das construções de médio e alto padrão têm selo de sustentabilidade. Nos EUA
e na Europa, isso representa cerca de 15% do mercado imobiliário.
Aproximadamente 500 edificações brasileiras estão na fila para reivindicar o
selo Leed, o que demora dois anos para ser expedido.
No Rio, em 2007, havia apenas
dois prédios com certificação. Chicago, que competia com o Rio para sediar as
Olimpíadas de 2016, tinha mais de 600. O Comitê Olímpico Internacional (COI)
exige construções verdes. Tanto que, em Londres, uma das técnicas usadas no
Parque Olímpico foi a colocação de telhados verdes, que reduzem a temperatura
em até três graus.
De volta à realidade brasileira, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Enquanto na cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2016 ainda vigora uma lei que obriga os novos prédios a terem quarto de empregada, na Europa de forma geral uma habitação reformada ou nova só pode ser erguida ou modificada se tiver padrões mínimos de eficiência, sobretudo energéticos. Caso contrário, a prefeitura não dá autorização para habitar.
De volta à realidade brasileira, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Enquanto na cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2016 ainda vigora uma lei que obriga os novos prédios a terem quarto de empregada, na Europa de forma geral uma habitação reformada ou nova só pode ser erguida ou modificada se tiver padrões mínimos de eficiência, sobretudo energéticos. Caso contrário, a prefeitura não dá autorização para habitar.
A proposta da ONU para as
edificações ‘verdes’ começa pelo poder público. As recomendações das Nações
Unidas são para que prédios públicos, como hospitais e grandes edifícios, sejam
o ponto de partida para uma mudança de padrão. Afinal, é preciso criar escala
para que produtos e normas ambientalmente corretas sejam também rentáveis.
Enquanto a indústria não faz a
virada, a preocupação ambiental se mantém no campo das exceções. As oito casas
do condomínio Movimento Terras foram projetadas desde o início de acordo com
preceitos de interferência mínima no meio ambiente. Isso significa, por
exemplo, construir com mínima interferência no terreno, considerando para o
empreendimento o movimento dos ventos e todo o ambiente ao redor – exigências
para a certificação Breeam.
Cada casa tem uma pequena estação
de tratamento de esgoto (ETE). A previsão é de que a economia de água e energia
nas unidades do Movimento Terras seja de 30%. Todo o aço usado é reciclado, as
madeiras e outros materiais têm comprovação de origem.
O mercado de construção tem
itens que permitem, mesmo em uma reforma, reduzir o consumo e o impacto
ambiental de uma casa ou apartamento normal. Entre eles, estão as válvulas de
descarga com dois níveis de acionamento, lâmpadas de led, painéis de
aquecimento solar e janelas com vidros que reduzem o aquecimento causado pela
luz solar, sem escurecer tanto o ambiente.
O diferencial ambiental é um
argumento a mais para a venda, mas ainda não é algo que motive isoladamente a
compra. Mas o que percebemos é que faltam alguns passos para que a cultura de
construções ambientalmente corretas se consolide no Brasil.
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