Acompanhando o movimento iniciado
no Acre nos anos 80, as populações agroextrativistas do sul do Amapá também se
organizaram politicamente, visando garantir o acesso aos produtos do
extrativismo vegetal. Contando com o apoio de entidades nacionais e internacionais,
este processo culminou com a criação de três unidades de proteção ambiental, nas
quais esta assegurada de forma coletiva o seu uso sustentável. No total, são aproximadamente
três milhões de hectares de florestas na Amazônia exploradas de forma
sustentável pelos agroextrativistas.
Passados 26 anos, constatam-se grandes
discrepâncias nos resultados socioeconômicos e ambientais alcançados nas
unidades de uso. Tal discrepância advém das peculiaridades dos arranjos
institucionais de gestão ambiental criados a partir da interação entre a lógica
reprodutiva das famílias extrativistas e a cultura institucional dos gestores
públicos envolvidos nas respectivas unidades, num ambiente marcado por fortes
pressões tanto das estruturas de acumulação de capital comercial e
agroindustrial, quanto de Ongs ambientalistas.
A criação de instrumentos jurídicos para formas
coletivas de posse e exploração de
recursos naturais constitui uma forte
inovação institucional em nosso país. Longe
de ser a solução final, coloca imensos desafios àqueles responsáveis pela
gestão das áreas coletivas de conservação.
Passada a fase inicial em torno
da luta pela terra, na qual a ação coletiva se reveste de um forte caráter
mobilizador e unificador das ações individuais, no momento seguinte observa-se
no sul do Amapá a emergência de sérios conflitos no seio das unidades coletivas
a partir do afloramento de interesses individuais. A inexistência de arranjos
institucionais claros e suficientemente testados capazes de legitimar tanto a
ação dos órgãos oficiais quanto das comunidades envolvidas para a gestão de
áreas de conservação segue sendo imperativa no fracasso das experiências do sul
do Amapá.
Vale lembrar que o caso do PAE
Maracá, de longe o que apresenta as maiores precariedades ambientais, sociais e
econômicas, é emblemático ao atestar o despreparo do INCRA em gerir
assentamentos coletivos. A RESEX Cajari logrou maiores êxitos devido à experiência
dos primeiros técnicos envolvidos em sua gestão. Já no caso da RDS do
Iratapuru, sua organização, abundância dos recursos florestais e a sua reduzida
densidade populacional proporcionou os melhores ganhos sociais e econômicos sem
danos ambientais digno de nota. Alias, a partir da criação das três unidades
constata-se uma forte redução das taxas de desmatamento em toda a área, por se dedicarem
principalmente ao extrativismo da castanha, freando a tão temida expansão da pecuária
na região.
Políticas públicas do Governo do
Amapá
Segundo o governador, Camilo
Capiberibe, o debate é fundamental para desenvolver a cadeia produtiva e
promover a qualidade de vida dos povos da floresta. Dialogar abertamente
extrativismo e apresentar políticas para o setor é o que todos esperam do
congresso sobre Extrativismo que está sendo realizado em Macapá. Ele também pontuou que tem trabalhado pela população do campo,
exemplos disso são os programas que o governo do Estado lançou como: O
Pró-Extrativismo, que tem a missão de apoiar a cadeia produtiva da castanha,
açaí e cipó-titica; o Programa Territorial da Agricultura Familiar e Floresta
(Protaf), que recupera áreas degradadas e avança com a produção agrícola
familiar e o Pró-agroindústria, que visa industrializar toda essa produção.
Sabemos que o relativo sucesso no plano
ecológico, por si só não é garantia de sustentabilidade para as unidades de
conservação. As frequentes e fortes oscilações nos preços pagos aos extrativistas
pela castanha colocam em xeque a base econômica de sustentação das famílias extrativistas.
Outrora alardeadas como a grande solução, as cooperativas locais têm se
revelado incapazes de gerir tanto a coleta como o processamento da castanha de
formas a sobrepujar as tradicionais formas de acumulação de capital comercial
local e acessar mercados mais rentáveis no exterior.
Ante a crise das formas
tradicionais de acumulação comercial e a - até o presente -inviabilidade
técnica e gerencial das cooperativas, surge um vácuo na intermediação comercial
e agroindustrial entre a produção local e os grandes mercados, de cujo
preenchimento dependem as esperanças de um modelo de desenvolvimento
sustentável para o Amapá.
Agência Amapá; Jefferson Pereira
- CNPT-AP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário